As Bênçãos de Estar Comprometido

As bençãos de estar comprometido

Encontrando Liberdade Através da aliança

Em nosso mundo de fácil mobilidade e inúmeras opções, a vida pode parecer um corredor com cem portas.

Escolhemos um entre cem cursos após termos escolhido uma entre cem faculdades. Então, uma centena de carreiras nos confronta, junto a uma centena de lugares para morar. E essas decisões nem são as mais importantes. Escolhemos uma igreja entre, não cem, mas muitas opções, consideramos um cônjuge em potencial entre cem possibilidades físicas e digitais e priorizamos amizades entre as cem pessoas que conhecemos. É verdade que amizades, empregos e casamentos nem sempre são fáceis (nosso mundo conhece muitas pessoas desempregadas e solitárias) — mas, para muitos, as possibilidades podem parecer estonteantemente diversas.

Em tal mundo, podemos nos sentir tentados a acreditar que a liberdade consiste em manter o maior número possível de opções em aberto. Ou, se passarmos por uma porta em particular, preferimos mantê-la aberta, caso surja algo melhor. Muitos entram por uma porta para chegar ao próximo corredor, e depois entram por outra porta apenas para fazer o mesmo — de trabalho em trabalho, igreja em igreja, amigo em amigo e lugar em lugar. Ou se optássemos por nos trancar em um quarto (digamos, casando-nos ou tendo filhos), poderíamos nos irritar, coçar e imaginar como seria a vida por uma porta diferente.

Como pode ser difícil acreditar, então, que neste corredor com cem portas, a melhor e mais libertadora decisão que podemos tomar é fechar noventa e nove delas. Só assim descobriremos as bênçãos de estarmos comprometido— pela aliança, pela união, pela amizade e pela fidelidade.

Comprometido no Princípio

Desde o início, a Bíblia ensina um princípio que parece paradoxal, especialmente em uma época como a nossa: as relações vinculativas libertam. A autonomia pessoal escraviza.

O princípio aparece assim que as pessoas o fazem. Quase imediatamente depois de ser formado a partir do pó da terra, Adão, livre e sem pecados, encontra-se unido pelas duas relações mais duradouras do mundo. Ele ouve o seu Criador, contempla a sua noiva e a ambos Ele dá a sua lealdade pactual (Gênesis 2:16–17, 23–24). E assim ele se torna um adorador e um marido, ligado em espírito ao seu Deus e em carne à sua esposa. Não é o seu próprio — ao mesmo tempo, no entanto, é o mais livre para isso.

A curta história do Éden nos dá vislumbres da liberdade paradoxal de Adão. Ao estar ligado a Deus, Adão pode ter perdido a liberdade de autogoverno, mas ganhou a liberdade de desfrutar da presença de Deus, refletindo o caráter de Deus e cumprindo a missão para a qual Deus o fez (Gênesis 1:28; 2:9, 19). Ao estar ligado a Eva, ele pode ter perdido a liberdade de solteiro, mas ganhou a liberdade de ser frutífero e se multiplicar e de viver com alguém que era osso de seus ossos — seu lar em carne humana (Gênesis 1:28; 2:23–24). Aqui está a liberdade sem amargura ou arrependimento, a liberdade plena e isenta de vergonha.

A alegria do Éden era uma alegria vinculante, comprometida, em que você se encontrava perdendo a si mesmo. Era uma alegria que teceria todo um tecido de relacionamentos, cada um com seu próprio tipo de vínculo: filhos, parentes e vizinhos para amar como a si mesmo. E com tal alegria, vislumbramos a vida para a qual Deus nos fez. Assim como os peixes precisam de água e os pássaros precisam de ar, os trens precisam de trilhos e os carros precisam de estradas, precisamos do tipo de relacionamento que nos liga aos outros com cordões muito mais fortes do que a conveniência.

Precisamos de casamentos unidos por aliança e selados com votos, filhos que exijam de nós uma alegre fidelidade à família, igrejas que se sintam tão indivisíveis quanto o corpo humano, amizades fortes o suficiente para resistir à oposição e à ofensa. Precisamos de uma lealdade forte com as árvores, com raízes que crescem há muito tempo.

Pois, como Adão e Eva nos mostram, a alternativa a essa lealdade não é a liberdade, mas um tipo de escravidão muito, muito pior — a tirania da autonomia.

A Nossa Grande Inflexibilidade

Ao observarmos Adão e Eva saindo do Éden, com a vergonha enrolada em torno deles como algemas, vemos a verdadeira escolha que está diante de nós: não se estaremos presos, mas a quê. Ao cortar os laços que os ligavam a Deus e uns aos outros, eles se enredaram em um cordão diferente, farpado e cruel. Eles se tornaram escravos do pecado e da vontade própria.

“Precisamos do tipo de relacionamento que nos liga aos outros com cordões muito mais fortes do que a conveniência.”
Quando a humanidade caiu, caímos não só para baixo, mas para dentro. Tornamo-nos “amantes de nós mesmos” (2 Timóteo 3:2 ACF), “inimigos de Deus” (Romanos 1:30) e, com muita frequência, usuários e abusadores de outras pessoas. Não é de admirar, então, que quando Deus nos redime, ele nos chama para cima (a Ele) e para fora (aos outros). Ele inicia um grande desdobramento em nossas almas côncavas — ensinando-nos que a nossa grande necessidade não é encontrar liberdade em relação aos outros, mas sim encontrar liberdade da nossa devoção caótica para com Ele mesmo.

Não é de admirar, então, que Deus muitas vezes fale de nossa redenção usando imagens de ligações novas e santas. Quando cremos, Deus nos une ao seu Filho (Colossenses 3:3), nos enxerta em seu povo (Romanos 11:17), nos torna membros do corpo de Cristo (Efésios 5:25), nos acolhe em sua casa (Efésios 2:19) e nos coloca como pedras vivas na parede de seu templo, cercados por todos os lados (1 Pedro 2:5). Abandonamos o nosso Deus; Ele nos conduz de volta ao lar.

Deus sabe que tais relacionamentos — e não apenas com os membros da igreja, mas com cônjuges, filhos, colegas de quarto e amigos — têm uma maneira de nos libertar de nossa escravidão a nós mesmos. E, verdadeiramente, o que mais terá? Se nossos relacionamentos operam com base em términos à vontade, então o que mais desafiará nossa lealdade interior? As pessoas, com seus pedidos incômodos e necessidades intrusivas, são inimigos maravilhosos do Eu tirano. Se tornarão, se lhes permitirmos, inúmeras serras que cortam as nossas correntes internas.

Mas somente se permitirmos. Apenas se nos recusarmos a deixar que um pequeno problema nos retire da porta que nos levou a elas, pois a liberdade é encontrada nos vínculos.

Liberdade Perdida e Achada

Que tipo de liberdade encontramos no compromisso? Muitos tipos.

Em um nível relativamente pequeno, encontramos liberdade para viver dentro dos limites de uma decisão. Deus não nos fez andar continuamente pelo corredor da vida, lutando repetidamente sobre as maiores decisões — a quem namorar ou casar, que emprego arrumar, que igreja juntar, onde viver, que pessoas amar. Nem nos fez questionar constantemente como seria a vida se tivéssemos feito uma escolha diferente.

Quanto tempo, emoção e energia mental gastamos em escolhas que seriam maravilhosamente resolvidas se estivéssemos mais dispostos a ficar presos? Em vez de nos perguntarmos repetidamente como viver, poderíamos, de fato, viver.

Mais significativamente, encontramos a liberdade de uma visão mais ampla e profunda, do tipo que vem apenas com um longo conhecimento das mesmas pessoas. Tal como os moradores de um local sabem muito mais dos seus verdadeiros prazeres do que os turistas, residir durante muito tempo em determinadas relações abre-nos os olhos para maravilhas que, de outra forma, não sentiríamos. A quem tem olhos para ver, as pessoas familiares não se tornam tediosas, porém mais belas com o tempo.

Se permitirmos que cônjuges, filhos, membros da igreja e amigos façam suas reivindicações sobre nós mesmo após a partida dos turistas relacionais em busca de novas pessoas, poderemos nos tornar como os exploradores do Salmo 104 – desta vez traçando não as colinas e vales da terra, mas as vastas paisagens das almas humanas. Podemos descobrir maravilhas tão amplas quanto a imagem de Deus.

No entanto, mais significativamente, encontramos a liberdade de nos tornarmos cada vez mais o povo que Deus nos fez ser.

A Amabilidade Nascida da Fidelidade

A vida sem vínculos pode estar livre de muitos compromissos, muitos pedidos, muitas exigências que vêm de relações próximas, mas muitas vezes ao custo incalculável da maior dignidade de um ser humano: amor. “Amar o teu Deus” e “amar o teu próximo” não são apenas os dois maiores mandamentos; eles são o modelo para a vida totalmente humana e totalmente livre (Mateus 22:37–39).

Deus fez-nos ser sobrecarregados e dobrados pelo glorioso peso das outras pessoas. Ele nos fez encontrar grandeza em servir aos outros (Marcos 10:43), bem-aventurança em dar aos outros (Atos 20:35), alegria em sacrificar pelos outros (Filipenses 2:17), verdadeira vida em morrer pelos outros (Mateus 16:25). Ele nos fez remover o plástico bolha de uma vida egoísta para que pudéssemos ver, ouvir, saborear, tocar e cheirar a beleza dos relacionamentos compromissados — que podem doer, sim, mas cujas cicatrizes são muitas vezes melhores do que a segurança.

Mesmo nas estações mais difíceis das nossas relações — um casamento problemático, uma igreja conflituosa, uma amizade não reconciliada — existe uma amabilidade nascida da lealdade que não encontraremos de outra forma. Pois Deus dá força àqueles que fazem seu rosto como uma pedra em direção à fidelidade. (Filipenses 4:13,19; Isaías 50:7). Ele tem uma reserva infinita de amor firme para oferecer (Êxodo 34:6). E, como muitos descobrem, as regiões selvagens relacionais podem levar a uma terra de leite e mel, onde os casais riem novamente, as amizades florescem novamente e as igrejas produzem o fruto do amor santo novamente.

É verdade que nem todas as lealdades neste mundo são para a vida. Algumas amizades desvanecem-se, os membros da igreja são transferidos e transitam de empregos por motivos verticais. Mas aqueles que permanecem leais por mais tempo do que sua carne quer, e por mais tempo do que o mundo aconselha, descobrirão a beleza impressionante nascida da lealdade, as bênçãos incalculáveis de estar comprometido.

Créditos

Tradução: Kennedy Souza

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.

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Para mais artigos do Autor, acesse: Scott Hubbard

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