
Se você deseja servir como um pastor, você deseja uma nobre função (1 Timóteo 3:1) — literalmente, uma boa obra. Quando Deus examina a extensão do seu desejo, Ele vê sabedoria, beleza e honra. Os mundanos podem ter pena do pastor. Eles veem qualquer coisa, menos nobreza. Mas não você. Quando você observa os custos e inconveniências reais do ministério, você vê glória, eternidade e ganho. Quer alguém te pague ou não para ser pastor, você não conseguiria estar contente em devotar sua vida curta de outra maneira.
E ainda assim, para alguns de vocês, você ainda não é um pastor. Por mais que o seu desejo de pastorear possa agradar a Deus, ainda não lhe agradou abrir uma porta para você de fato pastorear. A espera pode ser tão desorientadora quanto o desejo de se casar, lutando para ter um encontro, ou o anseio de ter filhos enquanto se acumulam testes de gravidez. Se Deus ama esse ofício, as igrejas precisam, e você quer essa boa obra, por que Deus o reteria de você, às vezes por anos?
Porque Deus frequentemente faz tanto através da nossa espera quanto faz através do nosso serviço. Às vezes, Deus nos faz esperar por portas abertas no ministério, porque a espera indesejada é uma das melhores preparações para o ministério. Isso significa que portas fechadas podem ser realmente bênçãos espirituais para aqueles que humildemente se ajoelham diante delas.
Mas o que podemos fazer enquanto esperamos? Como podemos evitar desperdiçar os anos antes de entrar no ministério formal? Como podemos extrair o máximo de proveito possível de uma porta fechada? Ao longo da última década, eu aprendi pelo menos sete lições práticas enquanto esperava do lado de fora das minhas próprias portas.
1.Purifique sua ambição
Uma razão pela qual Deus retém o ministério dos aspirantes ao pastorado é que a aspiração em si precisa de refinamento. O fato da função ser nobre não significa necessariamente que nosso desejo tenha alcançado tal nobreza. Pessoas buscam posições de liderança por todo tipo de razão (e às vezes, motivos honrados são profundamente misturados com os desonrados). Podemos até desejar glorificar Cristo, amar seu povo, mas lá no fundo, também queremos reconhecimento, ou influência, ou poder e autoridade. Nossa ambição precisa ser purificada.
Ocasionalmente, essas mentiras egoístas conflitam com o caminho ao ministério como uma árvore caída após uma tempestade. Nem sempre podemos ver nosso próprio egoísmo, mas Deus é misericordioso para nos ajudar a removê-lo. Um período de espera pode ser um momento para uma aspiração melhor. Nesses momentos, é especialmente bom orar orações como Salmo 139:23–24,
Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.
Em seu livro clássico, O Ministério Cristão, Charles Bridges enfatiza três qualidades de um desejo piedoso de pastorear.
Primeiro, o desejo piedoso é um desejo que nos impele, que persiste e se intensifica com o tempo. Esperar nos ajuda a avaliar a força e a resistência do nosso desejo.
Segundo, o desejo piedoso é um desejo ponderado, o que significa que nós avaliamos bem os custos. Esperar nos dá tempo para começar a servir e buscar as histórias e conselhos dos que estão mais avançados no ministério.
Por fim, o desejo piedoso é um desejo altruísta, o que significa que não é focado em si mesmo — louvor, poder ou estima —, mas na glória de Cristo e no bem de sua noiva. A espera prova e fortifica nossa prontidão em negar a nós mesmos, tomar nossa cruz e seguí-lo.
2.Fortaleça seu caráter
As qualificações para o episcopado em 1 Timóteo 3:1–7 e Tito 1:6–9 abordam várias áreas da vida de um homem — como ele fala, bebe, gasta seu dinheiro, reage a conflitos, que tipo de marido e pai ele é — na verdade, todas elas são sobre quem ele é. As qualificações são buscas por evidências externas de um caráter interno — não evidências perfeitas, mas reais e persistentes.
Então, Deus pode estar retendo o ministério para dar ao seu caráter tempo e espaço para amadurecer. Portanto, no seu período de espera, “procurem, com empenho cada vez maior, confirmar a vocação e a eleição de vocês” (2 Pedro 1:10).
“Acrescentem à fé que vocês têm a virtude; à virtude, o conhecimento; ao conhecimento, o domínio próprio; ao domínio próprio, a perseverança; à perseverança, a piedade; à piedade, a fraternidade; à fraternidade, o amor. Porque essas qualidades, estando presentes e aumentando cada vez mais, farão com que vocês não sejam nem inativos, nem infrutíferos no pleno conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pedro 1:5-8).
Esse estado de preparação pastoral não é diferente do aconselhamento pré-matrimonial. Nenhum casal pode abordar todas as falhas de caráter ou potencial área de conflito em três, quatro ou cinco sessões com um conselheiro. É impossível. Entretanto, isso não significa que aconselhamento pré-matrimonial é fútil. Tudo que você aborda (ou pelo menos começa a abordar) no pré-matrimônio terá algum efeito positivo no casamento. O mesmo vale na preparação para o ministério pastoral.
Então, quais áreas da sua vida e caráter necessitam de mais atenção em orações e responsabilidades consistentes? Você não imagina todos os futuros frutos que sua igreja pode receber do seu diligente semear piedoso agora.
3.Pastoreie melhor sua casa
Quando você lê as qualificações para o episcopado, qual delas parece ser mais desafiadora para você? Alguém certamente poderia concordar com “apto a ensinar” (“Eu fico suado só de pensar em falar em público”), ou “hospitaleiro” (“Você sabe com o que minha casa parece com crianças pequenas?”), ou “ter bom testemunho dos de fora” (“Você não conhece meus vizinhos”). Eu argumentaria a favor de uma qualificação diferente: “Ele deve governar bem a própria casa” (1 Timóteo 3:4). Em outras palavras, sabemos quão bem um homem haverá de liderar uma igreja pelo quão bem ele lidera sua casa.
Na maioria dos casos, essa vai ser a qualificação que requer mais planejamento, sacrifício e dedicação contínua. Se Deus te deu uma esposa e filhos, eles são o primeiro campo de avaliação para sua qualificação e preparação para o cargo na igreja. Nenhum homem que falha nisso deveria ter o povo de Deus confiado a ele. “Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1 Timóteo 3:5).
E ainda assim, todo homem, mesmo o mais qualificado, pode crescer nesse aspecto. Então, se Deus te der um período sem a responsabilidade formal na igreja, leve isso como uma oportunidade de ouro para liderar ainda melhor nas maiores e mais sagradas responsabilidades que você tem em casa. Comece com mais tempo na palavra de Deus. Lidere sua família entoando cânticos para Ele. Passe mais tempo de joelhos, com eles e sozinho. Reflita profundamente em como vocês podem ser mais hospitaleiros juntos e compartilhar o evangelho com os vizinhos. Antes de começar o ministério formal, use o tempo e energia preciosos que você tem agora para fortificar a fundação espiritual do seu lar.
4.Refine suas habilidades
Se Deus te deu dons que os outros acreditam que seriam úteis como pastor, um período de espera pode ser um ótimo tempo para identificar e nutrir esses dons. Você não precisa esperar até estar pregando regularmente para desenvolver sua habilidade de ensinar. Você não precisa ter horas no ofício formal de aconselhamento para começar a ajudar outros crentes em conflito e crises. Na verdade, você não precisa ter um título para atender a maioria das necessidades da sua igreja. Como, então, você pode usar seus dons agora para ser uma bênção para os outros?
Bobby Jamieson, em seu excelente livro para os aspirantes ao ministério, sabiamente aconselha homens jovens, “Busque ser confundido com um presbítero antes de ser nomeado como um presbítero” (The Path to Being a Pastor, 67). Você não pode ser um pastor até que a igreja te chame para ser pastor, mas você não precisa ser um pastor para começar a servir, ensinar, liderar e amar como um. De fato, como Jamieson diz, nenhum homem deveria ser chamado para o ministério pastoral se ele já não estiver fazendo algum, senão muito, do trabalho dos pastores.
O apóstolo Paulo exorta seu protegido Timóteo, “Não seja negligente para com o dom que você recebeu, o qual lhe foi dado mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medite estas coisas e dedique-se a elas, para que o seu progresso seja visto por todos” (1 Timóteo 4:14,15). Ele retorna ao mesmo ponto em sua segunda carta: “Por esta razão, venho lembrar-lhe que reavive o dom de Deus que está em você pela imposição das minhas mãos” (2 Timóteo 1:6). Então, se os outros têm visto habilidades de ensino e aconselhamento em você, o que você poderia fazer para reavivar essas habilidades? Como você pode estar imerso na ministração da palavra? Que oportunidades Deus tem te dado agora, mesmo que modestas, para ensinar e atender às necessidades da sua igreja?
5.Considere o custo
Muitos homens que almejam o ministério pastoral realmente aspiram às facetas mais gratificantes do ministério — estudar a Palavra de Deus, ajudar a congregação a compreender o que está lá, ver as pessoas se libertarem do pecado e se reconciliarem umas com as outras, ganhar almas para Cristo. Poucos aspiram aos custos. Alguns são quase completamente ignorantes dos custos. E há custos altos, às vezes esmagadores, no ministério.
Jesus diz a grandes multidões que parecem tão ansiosas em seguí-lo,
“E quem não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vocês, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não acontecer que, tendo lançado os alicerces e não podendo terminar a construção, todos os que a virem zombem dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar.’“(Lucas 14:27-30)
A advertência se aplica ainda mais aos pastores. Você tem dedicado seu tempo para olhar além dos aspectos agradáveis do ministério e ver os seus lados mais sombrios e desanimadores? Uma maneira de considerar o custo em um período de espera seria passar um tempo regular com um ou dois pastores veteranos. Encontre um homem disposto a ser vulnerável sobre o quão difícil o pastorado pode ser. Peça-lhe para pintar um quadro mais amplo e completo da guerra que enfrenta do que você consegue imaginar sozinho.
6.Discirna a porta certa
Deus pode ter retido algumas oportunidades de você simplesmente porque ele tem uma oportunidade particular em mente pra você. Há aspectos espirituais reais em qualquer busca de trabalho ministerial. Paulo diz a igreja em Tessalônica, “Com muito mais empenho e com grande desejo procuramos ir vê-los pessoalmente. Por isso, quisemos ir até vocês . . . porém Satanás nos barrou o caminho” (1 Tessalonicenses 2:17–18). Paulo queria ministrar lá, esse desejo era nobre — a igreja queria que ele viesse — e Satanás barrou o caminho mesmo assim. O ministério não aconteceu porque foi permitido que o mal interviesse (pelo menos por um tempo). Uma porta foi fechada, e Deus tinha uma boa razão para deixá-la assim.
Em outro lugar, Paulo destaca outras dinâmicas espirituais: “Quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, vi que uma porta se havia aberto para mim, no Senhor. No entanto, não tive tranquilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito. Por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia” (2 Coríntios 2:12–13). A porta estava aberta em Trôade, e Paulo queria estar lá, mas ele não sentiu paz ao estar lá. Ele tomou a ausência inesperada de Tito como uma razão para ir embora por enquanto e passar pela porta da Macedônia. Então, por muitas razões, mesmo algumas portas abertas podem não ser as portas certas.
E algumas portas certas podem não imediatamente parecer abertas. Observe atentamente como Paulo fala sobre uma oportunidade que ele aproveitou em uma cidade diferente: “Mas ficarei em Éfeso até o Pentecostes, porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se abriu para mim; e há muitos adversários” (1 Coríntios 16:8–9). Ele viu uma porta bem aberta apesar dos inimigos serem muitos. Embora muitos pudessem ter interpretado uma oposição intensa como uma porta fechada, ele viu o oposto. Então, só porque uma oportunidade ministerial particular parece desafiadora, até muito desafiadora, ainda pode ser a porta certa.
Tudo isso é pra dizer que um período de espera indesejada pode ser necessário para garantir que você chegue onde Deus quer que você esteja. Você bate em portas fechadas, uma após a outra, porque ainda não alcançou a porta que Ele deixou bem aberta pra você. Então, ore com Paulo que Deus abra para você a correta “porta para a nossa mensagem, a fim de que possamos proclamar o mistério de Cristo, pelo qual estou preso.”(Colossenses 4:3 NVI) — e que você a reconheça quando Ele assim fizer.
7.Cuide de almas
Por último, e mais fundamental, o chamado para ser pastor é um chamado ao pastoreio, para viver e morrer pelo bem das ovelhas. Quando Jesus, o Bom Pastor, restaura e comissiona Pedro após sua traição, ele o encarrega três vezes (misericordiosamente, uma vez para cada negação) em João 21:15–17,
“Apascente os meus cordeiros.”
“Pastoreie as minhas ovelhas.”
“Apascente as minhas ovelhas.”
Esse é o ministério pastoral em cinco palavras: “Apascente e pastoreie minhas ovelhas”. O trabalho com ovelhas é raramente emocionante, glorioso ou perfumado. É simples. É repetitivo. Pode ser uma bagunça. Muitas vezes é ingrato. Mas, se estas ovelhas pertencem a Jesus, e um dia serão lavadas e feitas como Ele, não há trabalho mais importante no mundo. Se Deus o chamou para o ministério, você vê aquela lã suja e aqueles pés errantes, e seu coração estranhamente se eleva com amor e devoção. Você deseja se dedicar à Palavra, para que um dia possa ajudá-las a estar diante de Cristo.
Então, passe um tempo com as ovelhas. Cuide das ovelhas. Ame as ovelhas. Abrace um período de espera e serviço na igreja com uma pós-graduação em pastoreio. Faça o que bons pastores fazem e comece a se sentir em casa na pastagem.
Créditos
Tradução: Kennedy Souza
Revisão: Tayllon Carvalho/Francisca Maria
Edição: Fabiana Lima
Colaborador(es): Francisco Alan Gonçalves (Revisão);
Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.
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