Deus Retira a Sua Presença dos Seus Filhos?

Há momentos na vida cristã em que Deus escolhe reter sua presença de nós, anulando assim toda a esperança de que poderíamos experimentar afeições divinas? Os puritanos pareciam operar a partir dessa suposição. Se isso é verdade, e Deus se afasta do cristão às vezes, tornando a alegria em Deus impossível, o hedonismo cristão – o chamado para ser feliz em Deus – não provoca apenas mais um amontoado de culpa em tal pessoa?

Eu acredito que as vezes Deus retira sua mão de sobre seus filhos. Outra imagem seria que ele nos cobre de escuridão às vezes. Entretanto, não penso que o hedonismo cristão acrescente culpa. Penso que o hedonismo cristão nomeia a culpa. Em outras palavras, é apropriado nos sentirmos mal por não estarmos nos regozijando no Senhor. Isso faz parte do que a escuridão é. Sentimos que não podemos nos alegrar e nos sentimos mal porque sabemos que deveríamos.

O hedonismo cristão não vai retirar os mandamentos bíblicos de se alegrar sempre (1 Tessalonicenses 5:16; Filipenses 4:4). Não vai retirar a ordenança bíblica de “entristecidos, mas sempre alegres”(2 Coríntios 6:10) como se pudéssemos simplesmente mudar a Bíblia para que você não se sinta mal neste momento. Em vez disso, o hedonismo cristão diz: “Eu sei do que você está falando”. Essa visão de alegria não é uma visão ingênua de alegria. Não é uma visão que pressupõe que não temos estações de escuridão horríveis.

“Culpa corajosa” na Luta pela Alegria

Minha passagem favorita das Escrituras sobre trevas e períodos de abandono é Miquéias 7:8-9, que preguei uma vez. Desde então, tenho usado a frase “culpa corajosa” para descrever a experiência de Miquéias nessa passagem. É assim que funciona:

“Minha inimiga, não se alegre a respeito de mim; ainda que tenha caído, eu tornarei a me levantar; se morar nas trevas, o SENHOR será a minha luz”(Miquéias 7:8).

Então ele está confessando ali mesmo. Eu moro nas trevas. Não há luz agora. Há nuvens. Depois, versículo nove:

“Sofrerei a ira do SENHOR, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito; ele me levará para a luz, e eu verei a sua justiça”(Miquéias 7:9).

Essa é uma das declarações mais magníficas e realistas do que significa ser um pecador justificado nas trevas. É uma experiência incrivelmente corajosa de culpa. É por isso que estou resistindo à afirmação de que não devemos nos sentir culpados ao reconhecer a verdade bíblica. Em vez disso, abraçamos a nossa culpa. Quando estou desanimado, derrotado, nas trevas e sinto pouca alegria, ter uma visão ingênua do meu próprio pecado e dizer: “Oh, afinal, parece que eu não sou tão culpado” ou algo assim. Eu sou culpado.

Então, a questão é: O que você faz com a sua culpa? Miquéias responde: “ainda que tenha caído, eu tornarei a me levantar; se morar nas trevas, o SENHOR [ainda] será a minha luz, [mesmo que eu não consiga vê-la]”. Vou suportar essa indignação porque pequei contra ele até que — note que há esse lapso de tempo — ele julgue minha causa e execute o meu direito.

Então, o que quero dizer à pessoa na escuridão, mesmo prolongada é: Continue agarrado à esperança de que Deus trará justiça e te levará de volta à luz.

Nos Poços com o Rei Davi

O texto que provavelmente usei com mais frequência para santos desanimados e abatidos, incluindo a mim mesmo, é o Salmo 40. Quando cheguei a Belém 32 anos atrás, um dos primeiros sermões que preguei chamava-se “Nos poços com o Rei”. Acho que foi à noite, domingo a noite, baseado no Salmo 40:1-3 onde diz: “Esperei com paciência pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um atoleiro de lama; colocou os meus pés sobre uma rocha e firmou os meus passos. E me pôs nos lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor”.

E eu pergunto às pessoas quando cito isso para elas: Quanto tempo você acha que ele esperou pelo Senhor? Eu esperei pelo Senhor. Davi está dizendo: Eu estava em um poço. Meus pés estavam na lama. Havia escuridão sobre minha cabeça, e Deus não estava aparecendo”. Ele esperou. E é isso que quero dizer: Nós esperamos.

Assim, os hedonistas cristãos afirmam que devemos ser felizes. Não estamos. Isso é ruim. Reconhecemos que é ruim, mas não vamos nos desesperar porque somos maus. Estamos desviando o olhar de nós mesmos na escuridão, desviando o olhar para Cristo, e esperando o tempo de Deus para restaurar a alegria da nossa salvação. E quando ele faz isso, percebemos que havia um propósito, porque agora as pessoas estão vendo e depositando sua confiança no Senhor.

Créditos

Tradução: Tayllon Carvalho

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização.

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