
Como devemos chamar os cristãos?
Pecadores ou santos — Como devemos falar de cristãos coletivamente? É uma questão que muitos de vocês me perguntaram ao longo dos anos, e Mark mais recentemente. Chegamos a essa questão hoje. Mark escreveu: “Olá, Pastor John. Como pastor e pregador, eu busco a verdade de Deus em sua palavra. Todo domingo eu me esforço para acolher e abraçar o fardo espiritual de falar sua verdade, e não minha própria opinião, sabendo que apenas sua palavra tem o poder para nos salvar das consequências da nossa pecaminosa rebelião contra um santo Deus.
À luz da verdade, fui recentemente questionado sobre o meu uso da palavra santo para coletivamente falar do povo de Deus. Como podemos ser salvos pela graça através da Fé e ainda ser chamados de Pecadores? Ou é mais bíblico usar a palavra santos?
Paulo chama a si mesmo de ‘O principal dos pecadores’ em 1 Timóteo 1:15–16, e Tiago fala de crentes rebeldes que são trazidos de volta ao corpo da igreja como pecadores (Tiago 5:19–20). Ainda assim, há muitos lugares por toda a escritura que se referem ao povo de Deus como santos. Então, o povo coletivo de Deus deve ser primariamente chamado de santos ou pecadores?”
Bom, primeiro um esclarecimento da forma que Mark coloca esta questão. Ele cita Paulo dizendo, “Eu sou o principal dos pecadores”. Mas no contexto, eu não acho que Paulo queria dizer que agora como um cristão, ele é o principal. Eu acho que ele queria dizer, “que isso era verdade quando Deus me salvou”, porque ele apoia isso com a declaração de 1 Timóteo 1:13: “a mim, que, no passado, era blasfemo, perseguidor e insolente”. Ele não é mais isso.
Nenhum Cristão é sem pecado
Entretanto, precisamos ser cuidadosos, porque o fato dele usar o verbo no tempo presente — “Eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15) — Eu penso que significa “eu continuo entre todas as pessoas o candidato menos provável a receber a salvação por causa da minha vida anterior”. Mas isso não significa que ele estava vivendo como o maior dos pecadores agora.
Então, quando Mark se refere a Tiago 5:19–20, ele está certo quando Tiago chama esse Cristão Apóstata de pecador. Tiago diz, “Meus irmãos, se alguém entre vocês se desviar da verdade [qualquer um entre vocês cristãos], e alguém o converter, saibam que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá uma multidão de pecados”. Então sim, isso está certo. Tiago fez uso da palavra para Cristãos.
E, claro, nós sabemos de 1 João 1:8–10 de que não há tal coisa como um Cristão nesta vida que não peque: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não cometemos pecado, fazemos dele um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”
E sabemos que Romanos 7 trata a si mesmo, enquanto cristão, como alguém que comete alguns pecados que ele odeia (Romanos 7:15). E Jesus nos ensinou a orar diariamente, “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores” (Mateus 6:12). E a razão por dizer diariamente é porque o pedido que precede imediatamente na oração do Senhor é, “o pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mateus 6:11). Nós precisamos do pão de cada dia. Nós precisamos do perdão de cada dia.
Não há nenhuma ideia de que possa haver qualquer cristão sem pecado nesta vida. Certo? Então, devo parar por aqui? “Fim da resposta — aí está! Cristãos são chamados de pecadores. Ainda somos pecadores”. Mark pergunta, “Podemos nós, que somos salvos pela graça mediante a Fé ainda sermos chamados de pecadores?” A resposta é Sim, fim de questão. Próxima Pergunta, Tony rs.
Não, não devemos parar por aí. Não ousamos parar por aí, porque isso não chega ao coração da questão.
Nós éramos pecadores
Paulo chama os cristãos de santos — isto é, santos, consagrados, separados, sendo feitos santos, salvos, separados para Deus, caminhando na Luz — Ele chama os cristãos de santos quarenta vezes em suas cartas, mas ele praticamente nunca usa o substantivo pecador para descrever Cristãos. Você pode pensar que há uma ou duas exceções. Eu diria que provavelmente não. De qualquer forma, quarenta para quase nada. Por que será? Acho que isso está por trás da pergunta de Mark. Essa é a questão. Porque será, já que todos nós pecamos?
De fato, em Romanos 5:8, Paulo diz, “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores”. Bem, o que significa — “Quando ainda éramos pecadores”? Isso significa que Paulo tem uma maneira de entender pecador que não se aplica mais a nós. Isso é o que significa. Isso é o que move Mark. É por isso que sua questão é tão relevante, tão importante.
Precisamos ser cuidadosos aqui. Precisamos ser atenciosos. Não queremos ser superficiais e dizer, “Uau — A Bíblia diz que nós sempre pecamos. Uma pessoa que peca é um pecador. Então é certo chamar os cristãos de pecadores”. Bem, isso não é assim tão simples, por duas razões. Primeiro, dizer que alguém peca e dizer que eles são pecadores pode não significar exatamente a mesma coisa. Você chamaria a si mesmo de mentiroso porque às vezes mente? A conotação não é bem a mesma.
Limpe-se do fermento velho
Aqui estão outras razões do porquê isso não é simples. Os cristãos realmente têm uma identidade essencial diferente agora que fomos salvos. Nós somos realmente novas criaturas em Cristo. Pecador não é mais nossa identidade essencial. Não mais em Cristo. Esse é o problema.
Considere essa declaração notável em 1Coríntios 5:7 “Alimpai-vos, pois, do fermento velho” — Limpem-se da levedura velha. Ele está usando isso para uma imagem do pecado. Joguem fora o velho fermento, para que vocês sejam nova massa, como, de fato, já são, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado. Sem fermento — de fato já são sem fermento. Em outras palavras, porque Cristo morreu por nós, estamos em nossa identidade mais essencial sem fermento — Isto é, sem pecado. E a única coisa sobre a moralidade cristã e ética cristã é que nós agora lutamos contra nosso pecado — Realmente lutamos contra nosso próprio pecado — porque ele já nos deixou.
“A luta contra nosso pecado contínuo é a evidência de que nós estamos em Cristo”.
Ele não está lá. “Limpe-se do velho pecado porque você está sem pecado”. Esse é o mistério da fé cristã. Limpe o velho pecado, mate o pecado em sua vida (Romanos 8:13), porque você está sem pecado. É quem você é. A luta contra nosso pecado contínuo é a evidência que nós estamos em Cristo — E n’Ele sem pecados em nossa identidade mais íntima e essencial.
Deixe-me dizer isso de novo. A luta — A luta diária, real e viva — é uma evidência. É isso que os pastores procuram em seu povo. Estou procurando pela evidência de que você é Cristão, e a evidência é que você está em Cristo. E, se você está em Cristo, você está sem pecado. Então, lutar contra o pecado é uma evidência de que você está sem pecado.
Escolhido, Santo, Amado
Em Colossenses 3:9–10, Paulo coloca assim: Não mintam uns aos outros. Então, mate isso. Livre-se desse pecado. Não faça isso. Confesse. Arrependa-se. Afaste-se, se você fez. Não faça isso. Por quê? Bom, uma vez que vocês se despiram da velha natureza [a velha identidade, o velho você, você o lançou fora — Está morto. Está crucificado com Cristo.] com as suas práticas e se revestiram da nova natureza [A nova identidade, o novo você] que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou.
“Porque Cristo morreu por nós, estamos em nossa identidade mais essencial sem fermento - Isto é, sem pecado.”
Você se despojou do velho eu — a saber, o eu que estava em sua identidade essencial como pecador. É isso que você despojou. Esse eu morreu com Cristo. Agora você é um novo eu. Revista-se. Revista-se do que você é. Ou seja, limpe o velho fermento porque você está sem fermento. Especificamente, ele diz: “Não mintam um para o outro. Você está sem pecado. Vocês não são mentirosos. Então não minta. Então, não peque”. Esse é o paradoxo glorioso da vida cristã, e eu acho que é por isso que Paulo praticamente nunca usa o substantivo pecador para descrever o cristão, porque soa como um marcador profundo de identidade, e assim não seria verdade.
Paulo dá muitas evidências de que os cristãos ainda pecam. Nós ainda lutamos contra o pecado, ainda o matamos (Romanos 8:13). Mas ele deixa claro que esse não é quem somos. E veja Colossenses 3:12–13: “Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revistam-se de profunda compaixão, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros”. Essa é a típica maneira de Paulo pensar. Você é escolhido. Você é santo. Você é amado. Então, coloque sua identidade nisso, e tratem uns aos outros com amor em Cristo.
Pastoreando os Santos
Então, qual é a resposta? Pastores — Foi assim que tudo começou, com a questão de tentar ser fiel como pastor de pessoas — Assimilem essa maneira do Novo Testamento de contar com essas duas realidades:
O pecado contínuo na vida do seu povo é real.
A profunda identidade deles como Escolhidos, Santos e Amados também é real.
Então, os ensine: (1) quem eles são e (2) o que eles terão que lidar e como eles se relacionam uns com os outros. Fale a eles de acordo com esta realidade.
Créditos
Tradução: Tayllon Carvalho
Revisão: Francisca Maria
Edição: Fabiana Lima
Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.
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