Você não encontrará o cônjuge “perfeito”

Foto de Everton Vila na Unsplash

Ao longo do ensino médio e da faculdade, li todos os livros sobre namoro e busca pelo casamento que enchiam as prateleiras das livrarias cristãs.

Devido às experiências dos meus familiares, fiquei apreensivo quanto a encontrar a pessoa certa para passar minha vida. Eu estava determinada a garantir que um homem preenchesse todos os requisitos antes mesmo de considerá-lo um possível marido digno.

O que eu não considerei, porém, foi que eu poderia estar sendo exigente demais. Eu turvei a linha entre estabelecer padrões elevados na busca por um cônjuge digno e seguir expectativas irreais (muitas vezes influenciadas pela cultura). Com o tempo, fui criando uma lista detalhada das características que queria em um marido e pelas quais orei muito.

A ‘Receita’ de um Marido

Certamente, a Bíblia define explicitamente algumas qualidades como requisitos — o casamento foi estabelecido para ser entre um homem e uma mulher (Gn 2:24), e os crentes devem se casar somente com outros crentes que vivam de acordo com sua profissão de fé (2 Co 6:14).

Fora dessas duas necessidades para um casamento que honra a Deus, porém, Deus nos dá liberdade para escolher a pessoa com quem vamos passar a vida.

Embora as pilhas de livros e artigos sobre as características que você deve procurar em um cônjuge piedoso sejam guias úteis e valiosos para tomar uma decisão sábia ao longo da vida, comecei a me fixar na “receita” e não na liderança de Deus em minha vida.

Comecei a me fixar na ‘receita’ e não na liderança de Deus em minha vida.

O problema se manifestou quando sutilmente comecei a considerar preferências adicionais como necessidades. Não é inerentemente errado ter preferências por certas qualidades em um cônjuge. Mas quando transformamos algo que não é uma orientação bíblica clara em um requisito indispensável—em um ídolo—estamos em uma zona de perigo.

Eu caí na armadilha de criar, na minha mente, um personagem que era o tipo de pessoa com quem eu achava que queria me casar—e ele não existia.

Do perfeccionismo ao pessimismo

Eu não tinha noção dos meus padrões irracionais até ouvir a série de sermões sobre casamento do Tim Keller. O material desses sermões foi eventualmente reunido em seu livro “O Significado do Casamento”, onde ele aborda o problema cultural generalizado de buscar em um potencial cônjuge a nossa ideia de quase perfeição.

Hoje, tanto homens quanto mulheres veem o casamento não como uma forma de moldar o caráter e a comunidade, mas como um meio de atingir objetivos pessoais de vida”, escreveu ele, “Eles estão procurando um parceiro que ‘satisfaça seus desejos emocionais, sexuais e espirituais.’ Isso cria um idealismo extremo que, por sua vez, leva a um pessimismo profundo de que você jamais encontrará a pessoa certa para se casar“.

Mesmo como crentes, podemos cair nessa armadilha que nossa cultura nos condiciona a perseguir. O pessimismo começa a se infiltrar, algo que presenciei na faculdade como piadas grosseiras sobre o sexo oposto e declarações de celibato vitalício (alguns brincando para esconder o desespero crescente, outros totalmente sérios).

Desejo Egoísta por um Cônjuge Perfeito

Quando Deus trouxe para a minha vida o homem que hoje é meu marido, me senti ao mesmo tempo compelida a conhecê-lo e desiludida. Exceto pelos verdadeiros fundamentos, como ser um homem de fé que vive de acordo com isso, ele não possuía todas aquelas habilidades ou características adicionais que eu achava que precisava em um parceiro de vida.

O Espírito Santo e minha comunidade me ajudaram a reconhecer que esses outros atributos eram meros idealismos. Eram qualidades que eu achava que iriam melhorar minha autoimagem e me completar. Eu estava em busca de um homem que me fizesse parecer bem para o mundo e me sentisse melhor comigo mesma. Em última análise, busquei a completude em outro ser humano caído.

Nessa mentalidade, há pouco espaço para o verdadeiro propósito do casamento — caminhar com nossos cônjuges pelos altos e baixos da vida, ajudando um ao outro a se tornar cada vez mais parecido com Deus enquanto caminhamos juntos em direção ao céu.

Desejos Melhores

Enquanto Deus continuava a me ensinar, ele começou a dar novos desejos ao meu coração — desejos melhores (Sl 37:4). Aceitar o fato de que meu marido não satisfaria, em última análise, o desejo corrosivo da minha alma de ser conhecida e plena, a princípio, foi devastador. Mas, com o tempo, tornou-se libertador. Passei a entender isso como um convite para amar livremente meu cônjuge sem me sentir ameaçada por suas imperfeições. Um convite para despertar afeições e esperanças mais ricas em meu coração, por uma vida surpreendentemente satisfatória e sem fim no céu.

Hoje, estou sóbria, humilde e grata por Deus não ter me dado algumas das coisas pelas quais orei tão intensamente para que houvesse em um marido.

Hoje, estou sóbria, humilde e grata por Deus não ter me dado algumas das coisas pelas quais orei tão intensamente para que houvesse em um marido.

Ainda mais surpreendente é que Ele me deu coisas maravilhosas que eu nunca sequer pensei em pedir. Em sua sabedoria e bondade, Deus me deu um marido que é diferente do homem que eu imaginava que iria casar, mas infinitamente melhor para mim em todos os aspectos. Nossas forças e fraquezas são diferentes, o que nos ajuda a sermos melhores juntos do que éramos individualmente.

Amigos solteiros que desejam se casar, considerem e orem pelas qualidades que vocês desejam em um cônjuge. Nao ha nada de errado em desejar certas caracteristicas ou interesses. Mas também ore para que o seu coração seja receptivo ao bom plano de Deus para você. Peça-lhe para revelar e mudar quaisquer expectativas irrealistas ou prejudiciais. Ore com o salmista: “Faze-me conhecer os teus caminhos, SENHOR; ensina-me as tuas veredas” (Salmos 25:4). Ore para que Deus seja o tesouro do seu coração.

Se o casamento é projetado para ser uma sombra terrena de uma realidade celestial, então nossas expectativas devem se ajustar de acordo. Sombras e silhuetas são uma forma de arte própria, mas não são nada comparadas a uma imagem vívida e colorida, com detalhes nítidos. Esperamos que nossas sombras sejam preenchidas com a vida livre do mal e da queda ali no alvorecer da eternidade — na ceia das bodas do Cordeiro (Apocalipse 19:6–9).

Créditos

Autor: Kirsten Franze

Tradução: Tayllon Carvalho

Publicado em Inglês no site The Gospel Coalition. Traduzido e publicado com autorização.

PS: Caso você também deseje nos ajudar em algum dos nossos projetos (Blog, Youtube, Podcast, Editora, financeiramente, incentivando-nos), entre em contato conosco pelo DIRECT DO INSTAGRAM.

Para mais artigos do TGC, acesse: The Gospel Coalition

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *