
Boa manhã de segunda feira e obrigado por estar ouvindo hoje. Começamos a semana com uma pergunta bem afiada e robusta de um ouvinte chamado Arnaldo. Aqui está: “Olá Tony e Pastor John. Obrigado pelo seu trabalho nesse podcast. Minha pergunta é uma que eu tenho lutado por mais de duas décadas. É a seguinte: Como eu posso viver com uma boa consciência? O apóstolo Paulo fala frequentemente sobre consciência, e como especificamente uma “boa consciência” é algo com o qual ele sempre viveu, aparentemente até antes mesmo de vir a ser cristão (Atos 23:1; 24:16). Também vemos que uma “boa consciência” é uma qualificação para líderes cristãos (1Timóteo 3:9). E ter uma boa consciência é um importante objetivo para a vida cristã de todos os crentes (1Timóteo 1:5,19)
“Quando eu leio a maneira que Paulo usa a palavra consciência nesses contextos, parece que ele está dizendo que significa estar ‘andando atualmente em obediência a tudo que Deus revelou a ele’. Ele não parece significar que está confiando no sangue de Cristo para cobrir seu interior pecaminoso. Eu creio tanto na doutrina do pecado interno quando na progressiva santificação (de acordo com textos como Provérbios 4:18 e Romanos 7:21–23). Deus está sempre me revelando novas áreas, e as vezes velhas, onde eu preciso crescer em santidade. Essas são questões de pecado muito reais que eu não consigo simplesmente parar de fazer, à semelhança de desligar um interruptor de luz. Esses são aquelas que eu estou engajado por um bom tempo, lutando e prosseguindo em lutar (de acordo com 1João 1:8–10 e Mateus 6:12)
Tudo isso significa que eu literalmente nunca tenho uma boa consciência — Eu estou sempre ciente de maneiras importantes pelos quais eu atualmente preciso me arrepender e vir a ser mais santo. Então, se a boa consciência é uma questão cristã básica, e Paulo sempre teve uma, e ainda assim eu sempre vou saber de áreas pecaminosas em minha vida — E se eu tenho que orar diariamente por perdão — Como eu poderia, ou qualquer cristão, sempre alcançar uma boa consciência?
Bem, Arnaldo fez sua lição de casa. Ele colocou textos em sua pergunta, como eu ouvi, que contém todas as peças. Eu tenho alguns para adicionar que podem demorar um pouco. Uau, ele não está brincando aqui ao fazer essa pergunta. Se há uma solução, e eu creio que há, é provavelmente encontrada dentro desses textos de que ele estava comentando, mas talvez tirando algumas inferências deles que não eram necessariamente corretas.
O pecado que mora no interior
Eu sinto a força dessa pergunta. Pela minha experiência, andar em uma boa consciência não é fácil pra mim, já que eu compartilho da profunda consciência do meu pecado contínuo e interno. Esse é o termo de Paulo em Romanos 7:17,20,23. Todos nós temos corrupções e pecado interior remanescente. Quanto mais profundamente você estiver consciente disso, mais você vai se sentir em apuros no quesito de precisar de uma boa consciência.
“Todo o novo testamento assume que, nessa vida, ninguém atinge a perfeição sem pecado.”
Eu entendo. Quer dizer, eu penso que essa é uma questão séria. Todo o novo testamento assume que, nessa vida, ninguém atinge a perfeição sem pecado. Precisamos apenas lidar com isso. Essa é uma das premissas. Ninguém atinge a perfeição sem pecado nessa vida.
Jesus disse que nós deveríamos orar, “Perdoa as nossas dívidas” logo depois de, “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mateus 6:11–12) Eles andam juntos. Todo dia, dizemos ambas as coisas. Paulo disse, “Não que eu já tenha recebido isso ou já tenha obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.” (Filipenses 3:12) Ele se referiu ao pecado que habita nele e clamou em desânimo, “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24) Jesus apontou para o publicano que disse, “Deus, tenha misericórdia de mim, um pecador!” contra o Fariseu que estava agradecendo a Deus por ele ter uma consciência tão limpa — E ele disse que aquele que clamou por misericórdia em relação ao seu pecado desceu para sua casa justificado (Lucas 18:10–14) Foi bom para ele reconhecer sua própria pecaminosidade, e não dizer, “Oh, Ela não existe. Eu tenho uma consciência limpa. Eu não tenho qualquer pecado para me arrepender.” Sentimos a força dessas afirmações.
Agora, eu acho que 1João 1 não está somente iluminando de forma especial, mas nos dá uma categoria junto a boa consciência que pode prover a solução.
Caminhando na luz
Agora é minha leitura de 1João 1, começando com os versos 6 e 7.
Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
Agora, isso é incrivelmente maravilhoso. “Se caminharmos na luz. . . O sangue de Jesus . . nos limpa.” Uau. Aqui está 1João 1:8: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós”. Agora, ele está retornando e dizendo, “Não assuma que quando eu digo ‘Caminhando na luz’ eu quero dizer sem pecado”. 1João 1:9–10 diz, “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não cometemos pecado, fazemos dele um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
Agora, o que é maravilhoso sobre essa passagem é que é dito que nós devemos caminhar na luz do sangue de Jesus para sermos limpos dos nossos pecados. Então ele está dizendo que seu percurso na luz não significa ausência de pecado. Somos mentirosos se dissermos que sim. Então, ele explica que quando nós caminhamos na luz, nós vemos claramente o suficiente — nós temos luz — para conhecer o pecado, ver o pecado como o que é, odiá-lo e confessá-lo. E então desfrutarmos da limpeza e perdão contínuos.
“Uma boa consciência é praticamente o mesmo que andar na luz”.
Nossa Consciência Limpa
Essa é a minha resposta básica à pergunta de Arnaldo. Ele sente que, desde que ele esteja consciente da realidade do pecado interno, como em Romanos 7, ele não pode ter uma boa consciência. Agora, se isso fosse verdade, eu não acho que Paulo poderia ter uma boa consciência. A questão é que Ele claramente diz que ele tem uma boa consciência.
“Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com a consciência limpa.” (2 Timóteo 1:3). Ele espera que os anciãos da igreja façam o mesmo: “Conservando o mistério da fé com a consciência limpa”(1 Timóteo 3:9). Esse é o objetivo de todos os cristãos. De acordo com 1Timóteo 1:5, “O objetivo desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia”. Eu não acho que nós deveríamos igualar uma boa consciência com perfeição sem pecado nessa vida cristã, nem igualar uma má consciência com a presença do pecado interior ou uma corrupção remanescente. Em vez disso, uma clara ou boa consciência é como caminhar na luz.
“Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado nenhum (Em outras palavras, se interpretarmos “Andar na Luz” como “Perfeição sem pecado’), a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”(1 João 1:7–9).
O exemplo de Davi
Eu penso que tanto Paulo quanto João herdaram esse conceito de Pecado contínuo e interno que coexiste com uma boa consciência dos Salmos do Antigo Testamento.
Por exemplo, no Salmo 25, Davi confessa três vezes que é um pecador. “[Deus] aponta o caminho aos pecadores” (Verso 8). “Perdoa a minha iniquidade, que é grande” (Verso 11). “Perdoa todos os meus pecados” (Verso 18). O salmo vem chegando ao fim no verso 21 assim: “Que a sinceridade e a retidão me preservem, porque em ti espero”.
Na mente de Davi — Bom, ele está escrevendo sob a inspiração de Deus, e esse não é o único lugar nos Salmos. Há muitos Salmos que distinguem justos e ímpios. Os justos são realmente justos: Eles estão caminhando na Luz; Eles têm uma boa consciência. Na mente de Davi, há uma integridade e uma retidão consciente da corrupção interior que irrompe as vezes em pecado. Sim. E que a realidade contínua do pecado interior não anula o que Davi chama de sua integridade e sua retidão.
Eu penso que Paulo e João viram isso. Eles estavam imersos no Antigo Testamento e usaram a linguagem dessa maneira. João usou a linguagem de caminhar na Luz apesar de sermos imperfeitos. Paulo usou a linguagem de caminhar em uma boa consciência apesar de sermos imperfeitos. Eu penso que para todos eles (Davi, Paulo, João), a chave para auxilia-los a pensarem dessa maneira é que todos eles sabiam que Deus tinha feito uma para ponte para eles passarem sob todo o mar de pecados — a saber, o Sangue do Cordeiro, Jesus Cristo. Davi sabia que estava vindo, e Paulo e João sabiam que tinha chegado.
Eu penso que Arnaldo está certo ao dizer que a justificação pela fé não é o mesmo que caminhar em boa consciência, ou caminhar na luz, ou ter integridade. Esses são traços de caráter reais, não a imputação da justiça. No entanto, é o revestimento de todos os seus pecados pelo sangue de Cristo que te capacita a olhar para a sua consciência, progresso e integridade com gratidão e confiança de que realmente você será aceito por Deus como bom, apesar de imperfeito.
Pessoas de Integridade
Aqui está uma última explicação. As pessoas podem pensar, “Bem, como isso é importante?” Aqui está uma ilustração concreta de como isso importa. Suponha que um pastor é acusado falsamente de ser infiel com sua esposa. A razão dele ser acusado é porque alguém da congregação odeia ele e quer que ele seja demitido. Quando ele vem diante da Igreja ou dos presbíteros contar a verdade, com sua esposa e criança presentes olhando para ele, esse não é o momento dele dizer a igreja, “Bem, sim, eu sou um pecador como todo mundo. Eu não sou melhor que os adúlteros. Todo mundo tem pecados internos que surgem de tempos em tempos. Eu não deveria ser colocado em um pedestal. Eu não sou melhor do que ninguém”.
Não, não, não. Essa não é hora de dizer isso com sua esposa ouvindo, seus filhos ouvindo e toda a igreja se perguntando. O que você precisa dizer nesse momento é: “Minha consciência está limpa. Sou um homem de integridade. Eu tenho caminhado na Luz. Eu nunca toquei naquela mulher ou em qualquer outra mulher sexualmente além da minha Esposa. Essa acusação não é verdadeira”.
Eu penso que é uma das implicações que Paulo está dizendo quando ele fala aos presbíteros e para os outros de nós que devemos andar com uma boa consciência — ou como João diria, andar na luz.
Créditos
Tradução: Tayllon Carvalho
Revisão: Francisca Maria
Edição: Tayllon Carvalho
Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e Publicado com autorização da mesma.
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