Como falhar com uma esposa

Como falhar com uma esposa

Aprendendo sobre casamento com um marido ruim

Podemos descartar o primeiro casamento como algo muito extraordinário para ser útil na prática. Como poderia qualquer pecador comum hoje, marido ou esposa, se identificar com aqueles recém-casados verdadeiramente inocentes em seu lar perfeito em seu paraíso impecável? Eles desfrutaram de uma plenitude de paz, segurança e intimidade que agora é estranho à terra que conhecemos.

Entretanto, mesmo para Adão e Eva, sua fase de lua de mel não durou tanto (pelo menos não quando medido em versículos). E aprendemos tanto (ou mais) através de seus erros posteriores quanto por sua obediência inicial. Como um jovem marido que falha frequentemente, encontro minha imaginação presa pelo único marido sem pecado da história, colocando tudo que tinha no altar do pecado e compromisso. Suas falhas são contrastes com meus chamados, peregrinações estranhas e sombrias para o que meu casamento deveria ser — para o que eu deveria ser. Suas falhas incomodam nossas vagas e confortáveis ideias do que significa ser um marido, para uma definição mais elevada e menos agradável.

Quanto mais anos de casado vivo, mais facilmente me coloco nas folhas de figueira de Adão. Os pecados dele são únicos por serem os primeiros, mas não são tão diferentes em seu tipo ou consequência. Como podemos perceber, é muito mais fácil ser um marido ruim do que um fiel, mesmo no paraíso. Então, o que podemos aprender com esse primeiro, ainda que mal, marido? Vamos estudar o colapso do casamento deles em três estágios.

Quando veio a tentação

Os primeiros versículos do capítulo mais trágico das Escrituras sequer mencionam o homem. Como resultado, podemos ser levados a pensar que Adão foi simplesmente um coadjuvante (ou até uma vítima) nessa história terrível. Contudo, a realidade é que sua aparente ausência foi seu primeiro grande erro.

Mas a serpente, mais astuta que todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É verdade que Deus disse: “Não comam do fruto de nenhuma árvore do jardim”?(Gn 3:1).

Satanás sabia como atacar o casamento. Ele sabia que a maneira mais certeira de arruinar o homem, o casamento e o brilhante mural de Deus e seu povo era mirar na esposa e procurar reverter a ordem dos seus chamados. Ele sabota seu matrimônio ao encorajá-la a ser a cabeça assertiva e ele o auxiliador submisso. Então, ele vai atrás da noiva. E onde estava Adão?

Conforme continuamos a leitura, percebemos que o marido não estava, de fato, ausente, mas quieto. Na mesma tentação, ele comete dois dos pecados mais comuns do homem: falha em fazer o que precisa ser feito (passividade) e faz o que nunca deveria ser feito (quebra de compromisso). Note como ele finalmente entra em cena:

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto e comeu; e deu também ao marido [No inglês, que estava com ela], e ele comeu”(Gn 3:6).

Passividade

Adão não estava por aí coletando comida ou pastoreando leões enquanto Satanás aparecia sorrateiramente para enganar Eva; ele estava com ela. Sua esposa não pegou o fruto e correu para encontrá-lo; ela simplesmente se virou e estendeu a mão. Ele não precisava que ela repetisse tudo que foi dito; ele provavelmente escutou cada palavra. E ainda assim, ele deixou ela ouvir, tomar e comer. Seu lar caiu devido a venenosa passividade. Enquanto Eva ouvia (1 Tm 2:14), tomava o que não era seu e preparava a refeição proibida, Adão ficou parado e deixou tudo isso acontecer.

Há apenas poucos versículos atrás, em Gênesis 2:15, “ tomou o Senhor Deus o homem” — o homem, não o casal — “e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” — guardar, preservar e proteger. Jason DeRouchie esclarece esse guardar: “[O marido] deve prover o alimento espiritual e físico e afastar qualquer obstáculo espiritual e físico para a missão global gloriosa para a qual Deus chamou sua família. Mas quando a tentação veio ao seu lar, Adão falhou em guardar o que Deus lhe confiou. Ao invés de intervir, ele tolerou e abriu as portas para isso.

O que impediu Adão de intervir e defender? Não nos é contado. Eu assumo, porém, que sua tentação não foi tão diferente das que maridos como eu enfrentam hoje em dia. Talvez orgulho. Essa foi certamente a fraqueza que Satanás mirou: “Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:5). Talvez medo, se perguntando o que Eva poderia sentir ou dizer se ele recusasse o fruto. Talvez preguiça, simplesmente sem força e determinação para resistir e confrontar. Talvez luxúria por poder, ansiando pelo gosto daquele prazer proibido. A passividade cresce em muitos solos, mas como vemos repetidas vezes, ela sempre produz o mesmo fruto amargo.

Compromisso (Em falta)

Adão não era inteiramente passivo, afinal. As três palavras mais assombrosas, pelo menos para os maridos, devem ser estas: “… tomou do seu fruto e comeu; e deu também ao marido [No inglês, que estava com ela], e ele comeu.”

O marido não só assistiu a sua esposa criando uma guerra com Deus, mas pegou sua própria espada. Ele sabia muito bem o que Deus havia dito. Mais uma vez, apenas há alguns versículos atrás, nós lemos “E o Senhor Deus ordenou ao homem:” — ao homem, não ao casal — “De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá”(Gn 2:16–17). Ainda assim ele comeu. A falsidade do pecado o tornou surdo à voz que o trouxe do pó e soprou vida em seus pulmões. Há algo mais destrutivo e doloroso ao lar do que quando um marido, o que claramente sabe mais, mergulha de cabeça no pecado?

A maneira mais segura para um homem proteger o lar ao seu redor é guardando o coração no Senhor.

E quantos lares se despedaçaram porque os maridos falharam em ver a tentação pelo que ela é e chamar pecado pelo que ele é? A maneira mais segura para um homem proteger o lar ao seu redor é guardando o coração no Senhor. Como maridos, nós seguimos os passos do Noivo, que encontrou Satanás e suas tentações no deserto após quarenta dias solitários e famintos, e resistiu. Ele não cedeu quando o diabo tentou a mesma velha frase, “É assim que Deus disse . . . ?” Se manteve firme quando estava com fome. Perseverou pela glória de centenas de nações.

Nossos lares e igrejas precisam de maridos e pais que se recusem a abandonar a palavra de Deus, mesmo que suas esposas, filhos e amigos tentem os afastar.

Depois que o pecado aconteceu

Depois que Adão e Eva comeram da árvore e caíram em pecado e vergonha, o Senhor os chamou. Quando Ele o fez, Adão veio primeiro, como esperado do marido.

Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher se esconderam da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E o Senhor Deus chamou o homem e lhe perguntou: Onde você está?(Gn 3:8–9)

Quando Deus pergunta a ele o que aconteceu, Adão coloca a culpa em qualquer coisa, menos nele, até lançando acusações contra Deus. “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3:12 RA). Ela me deu o fruto e você deu ela pra mim, então de quem poderia ser a culpa?

Eu imagino que qualquer homem que tenha sido casado por muito tempo possa se identificar com a sedução da autopiedade — querendo preservar nosso nome e honra enquanto a casa está pegando fogo. Quão enganoso é o pecado, a ponto de querer culpar a Deus pela própria iniquidade? E ainda assim. Adão o fez. E nós fazemos isso em nosso próprio contexto. Nos sentimos mal por nós mesmos sobre isso ou aquilo e começamos a criar desculpas pelas nossas falhas.

O ponto não é que Eva deveria ser isenta de culpa (dando os créditos, ela tem sua parte, versículo 13); o ponto é que Adão deveria assumir a primeira e maior culpa. Ele, não ela, foi chamado para guardar. Maridos fiéis se posicionam e se responsabilizam nas crises e nas derrotas. Eles não vão procurar desculpas ou bode expiatórios. Eles sabem que o julgamento sempre começa com o cabeça do lar. Então, primeiro, eles procuram remover o que quer que encontrem em seus próprios olhos (Mt 7:5), e então fazem tudo que podem para corrigir, restaurar e proteger a família. Quando o pecado acontece no lar, o marido assume a responsabilidade — não significa que ele aceita toda a culpa, mas aceita sua parte dela e, mais importante, assume como a família responde a isso.

Se Satanás conseguiu convencer um marido de que seus problemas conjugais estão todos enraizados nos pecados da mulher, tal homem removeu as paredes de sua casa e as abriu para todo tipo de ataque espiritual. Sim. A mulher, não o homem, foi enganada. Mas a Escritura diz que o pecado entrou no mundo através do homem, não da mulher (Rm 5:12).

E antes da tentação chegar?

Não podemos dizer muito sobre o espaço e tempo entre o último versículo de Gênesis 2 — “Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.” — e os primeiros versículos de Gênesis 3 — “Mas a serpente . . . disse à mulher” (Gn 3:1–2 RA). Adão já havia falhado ao deixar Satanás entrar? Nós não sabemos como o diabo invadiu o jardim ou como ele conseguiu uma audiência com sua rainha. Nós sabemos que Deus encarregou o rei a guardar — para proibir e resistir a todas as ameaças.

Porém, Satanás se infiltrou, e nós sabemos que proteger um casamento e lar no mundo como o nosso, corrompido pelo pecado e cheio de tentações, começa muito antes da tentação chegar. Sabemos que muitas tentações podem ser evitadas por completo, porque Jesus nos ensinou a orar, “E não nos deixes cair em tentação” (Mt 6:13 RA) — não só não cair em tentação, mas nos livrar dela completamente. Não deixe as mentiras terríveis dele tocar nossos ouvidos. Maridos e pais são um grande significado desse tipo de proteção. Nós nos sacrificamos para manter as paredes espirituais de nossos lares, vigiando as ameaças e necessidades que emergem em nossos casamentos e na criação de filhos; e então, tomamos medidas decisivas e custosas quando necessário.

Ser marido significa estar de guarda antes que a serpente chegue.

Quantos maridos hoje, como Adão, tem baixado a guarda e deixado a tentação invadir e viver livremente em nossos lares? Com que frequência deixamos as mentiras de Satanás sem confronto — ou pior, despercebidas? Ser marido significa estar de guarda antes que a serpente chegue.

Proteção Proativa

Esse guardar, porém, não significa só manter o mal fora do lar, mas também estimular e cultivá-lo. Proteção espiritual sempre envolve ensinamento e encorajamento.

Os defensores do lar não só se mantêm nas paredes, guardando o horizonte de sombras; eles também enchem as paredes com luz. Eles sabem que a melhor defesa de uma família é uma profunda e crescente alegria em Deus, que alguns dos melhores cuidados ocorre por meio da leitura constante, testemunho, oração, admiração, serviço e canto. No fim das contas, Adão e Eva não comeram porque estavam com fome, mas porque seus olhos haviam se enfraquecido com relação a Deus. John Piper diz,

Comer o fruto proibido é ruim. Mas isso não é a essência do que aconteceu aqui. O ultraje moral — o horror — por trás do que aconteceu foi que Adão e Eva desejaram esse fruto mais do que a Deus. Deleitaram-se mais no que o fruto poderia ser para eles do que no que Deus poderia ser. Comer não foi a essência do mal porque, antes de comerem, eles já tinham perdido o desejo por Deus. Ele já não era mais a vida e a alegria que supria todas as suas necessidades. Eles preferiram algo diferente. Essa é a essência máxima do mal. (“The Ultimate Essence of Evil”)

Parte da responsabilidade de um marido em proteger o lar, então, é fazer o possível para cultivar o tipo de deleite em Deus que alegremente rejeita o que quer que Satanás ofereça. A alegria protege nossas esposas e filhos da tentação e os livra do mal.

Maridos, nós temos um grande e pesado chamado — e com isso, um maior e mais forte Deus para ajudar em momentos de necessidade. Como Adão, vamos inevitavelmente falhar como maridos. Diferentemente de Adão, nós agora sabemos onde encontrar perdão para nossas falhas e a força diária para amar fielmente nossas esposas e famílias. Então, quando a tentação vier, nós intervimos e enfrentamos Satanás diretamente, recebendo seu fogo o quanto pudermos. Depois de pecar, tomamos responsabilidade diante de Deus e conduzimos nossa família no sofrimento, confissão e arrependimento. E antes da tentação chegar, cultivamos uma visão grandiosa e satisfatória de Deus diante de nossas famílias — por meio de cultos familiares, conversas informais e talvez acima de tudo, através de nossa própria alegria contagiante n’Ele.


Créditos

Tradução: Kennedy Souza

Revisão: Tayllon Carvalho/Francisca Maria

Edição: Fabiana Lima

Colaborador(es): Francisco Alan Gonçalves (Revisão); Kennedy Souza (Tradução).

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.

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