
Como determinamos o valor monetário de nossas habilidades e dons pessoais? E o que eles valem para outros cristãos? Essa é realmente uma questão prática para muitos de vocês, aplicável em qualquer pessoa em uma igreja local que tem habilidade ou dom que beneficia outros.
A questão de hoje vem especificamente de um ouvinte em Los Angeles que escreveu:
“Olá Pastor John, e obrigado pelo último podcast. Minha questão é uma pergunta recorrente no meu coração para minha vida. Eu sou designer gráfico. Eu estou tentando viver minha vida de acordo com 1Pedro 4:10: ‘Sirvam uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como encarregados de administrar bem a multiforme graça de Deus.’ Como eu posso obedecer esse versículo sem sentir ressentimento e amargura pelas pessoas — cristãos e não cristãos — que me contatam principalmente porque eu tenho uma habilidade que pode suprir sua necessidade, a usam, mas nunca pagam por ela?
Frequentemente me sinto usado e considerado digno de “amizade” pelo que eu posso fazer, não por quem eu sou. Minha suposição é que, se eu não tivesse esse dom de designer gráfico, essas pessoas nunca iriam me contatar. Como pensamos sobre o valor das habilidade que são dadas por Deus e sobre o direito de ganhar um pouco de dinheiro desses presentes dados por Deus para ganhar a vida?”
Essa é uma pergunta muito boa, que muitos cristãos precisam saber sobre isso, porque eu tenho visto profissionais na igreja serem mal utilizados. Isso acontece quando pessoas, sem pensar sobre isso — creio que geralmente sem pensar — tiram proveito das conexões profissionais na família da igreja para obter serviços grátis, e serviços que a maioria das pessoas estão pagando por eles. Serviços como de um Médico, ou um Advogado, ou um encanador, ou um carpinteiro, ou um designer.
As pessoas simplesmente pedem a eles para fazer pequenos trabalhos ou pequenas consultas, digamos, a noite ou depois da igreja — é seu dom, afinal de contas — sem pensar como isso pode ser não bíblico por ser enganoso ou explorador. E eu vou voltar a essas palavras, enganoso e explorador, em breve.
Dons e Habilidades
A primeira coisa que eu gostaria de dizer sobre o texto que nosso amigo citou, 1Pedro 4:10–11, é que esses versos que não falam diretamente sobre serviços profissionais, mas sobre dons espirituais na igreja. O texto diz,
Como cada um tem recebido um dom, use-o para servir uns aos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus: Se alguém fala (Como pregação ou ensino), fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus lhe dá, para que, em todas as coisas, Deus seja glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio para todo o sempre. Amém!
Embora que eu ache que esses versículos estão se referindo diretamente a dons espirituais na igreja, algum deles são remunerados na igreja – por exemplo, quando Paulo diz em 1Timóteo 5:17–18 que alguns presbíteros que tem o dom de ensino devem ser pagos.
“Devem ser considerados merecedores de pagamento em dobro os presbíteros que presidem bem, especialmente os que se esforçam na pregação da palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: “Não amordace o boi quando ele pisa o trigo.” E, ainda: “O trabalhador é digno do seu salário.”
Isso é elevar alguns deles ao ponto de habilidades profissionais.
Obter e Dar
Então, eu penso que algum desses dons espirituais se elevam ao nível de chamado vocacional, que Paulo diz que devem ser pagos. E isso significa, eu penso, que é justo extrair alguns princípios desses textos que de fato relacionam com questões de dons naturais ou habilidades naturais que a pessoa tem e usa para ganhar a vida. Um princípio é o seguinte: Deus quer que trabalhemos regularmente para ganhar a vida e não estejamos dependentes de outros de forma desnecessária
Primeiro, 1Tessalonicenses 4:11–12 diz, “e se empenhem por viver tranquilamente, cuidar do que é de vocês e trabalhar com as próprias mãos, como ordenamos, para que vocês vivam com dignidade à vista dos de fora, e não venham a precisar de nada.” Uma das funções do trabalho é ter dinheiro o suficiente para que não precise depender dos outros de forma desnecessária. Então, é certo ser pago pelo seu trabalho. Como ouvimos anteriormente, “O Trabalhador é digno do seu salário. Não amordace o boi quando ele pisa o trigo.”
“Uma das funções do trabalho é ter dinheiro o suficiente para que não precise depender dos outros de forma desnecessária”
Eu não quero exagerar o caso. Isso não significa que não haja espaço para uma generosidade misericordiosa para ajudar aqueles que precisam, com sua habilidade profissional. Cristãos em todo o mundo fazem isso. Um dentista tira suas sextas-feiras de folga, vai ao centro da cidade, monta uma pequena clínica e dá tratamento dentário gratuito. Isso é belo. Não estou desencorajando isso.
Na verdade, Paulo diz que uma dar razões para trabalhar para ganhar a vida é para que possamos ter algo para dar. É o que ele diz em Efésios 4:28. “Aquele que roubava não roube mais; pelo contrário, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado.”
Assim, não estou dizendo que aqueles que tem habilidades especiais e dons nunca devem usar eles livremente e generosamente para ajudar outros. Em todos os mandamentos, Jesus diz para ser generoso, dar aos necessitados e até mesmo para se aproveitarem de seus dons — todos estão na Bíblia. E o que nosso amigo está chamando nossa atenção ao fazer essa pergunta é que há outro lado da moeda sobre esse assunto na Bíblia, e um deles não deve cancelar o outro.
Há o mandamento para dar livremente aos necessitados e há o mandamento para ganhar a vida, para que você e sua família possam comer e se vestir. Portanto, “trabalho para usar” e “trabalho para dar” estão ambos na bíblia. Trabalhe para que possa obter o dinheiro, para que você possa usar para colocar um teto sobre sua cabeça, e trabalhe para obter o dinheiro, para que você tenha muito para ser generoso e ajudar outros. Ambos estão na bíblia, e é essa tensão de amor e sabedoria que nosso amigo Designer Gráfico é desafiado.
Disposto a Pagar
Mas eu penso que esse seu grupo de amigos ou igreja precisam ouvir outra mensagem da bíblia — a saber, a mensagem encontrada em 2Tessalonicenses 3. Lembre-se, alguns cristãos na igreja de Tessalônica foram tomados por um tipo de histeria sobre a proximidade da segunda vinda de Cristo. Então, eles pararam de Trabalhar e começaram a viver em ociosidade, esperando o retorno imediato de Jesus, enquanto se gabavam daqueles que continuavam trabalhando pra viver. Olha como Paulo responde isso em 2Tessalonicenses 3:6–8.
“Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo, ordenamos a vocês que se afastem de todo irmão que vive de forma desordenada e não segundo a tradição que vocês receberam de nós. Porque vocês mesmos sabem como devem nos imitar, visto que nunca vivemos de forma desordenada quando estivemos entre vocês, nem jamais comemos pão à custa dos outros. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e fadiga, de noite e de dia, a fim de não sermos pesados a nenhum de vocês”.
Isso é incrível! Paulo era tão cuidadoso em não dar impressão que ele poderia explorar o trabalho dos outros enquanto vivia na ociosidade, que ele não comia o pão de ninguém sem pagar por ele. Sensacional! Essa é a mensagem que alguns crentes precisam ouvir, que estão tirando vantagem dos serviços das pessoas sem pagar por eles. E Paulo continua:
Não que não tivéssemos o direito de receber algo, mas porque tínhamos em vista apresentar a nós mesmos como exemplo, para que vocês nos imitassem. Porque, quando ainda estávamos com vocês, ordenamos isto: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma. “Pois, de fato, ouvimos que há entre vocês algumas pessoas que vivem de forma desordenada. Não trabalham, mas se intrometem na vida dos outros. (2 Tessalonicenses 3:9–11)
Assim, o ponto que estou tirando desse texto para nossa questão é: um grupo de cristãos estão tirando vantagem do trabalho de outros para obter algo que a maioria das pessoas está pagando — eles precisam ser ensinados, “Não façam isso. Não presumam essa ideia. Estejam disposto a pagar. Se uma pessoa habilidosa quer dar um presente especial para você, isso é uma decisão que a pessoa qualificada vai tomar, não você.”
Cultura forjada pela Graça
E ao próprio designer gráfico eu diria isso: Ore para que Deus dirija o coração das pessoas da maneira certa. Em outras palavras, ore para que essas pessoas despertem para o que estão fazendo, e então talvez fale com seu pastor ou professores na igreja para ver se ele pode começar a aplicar as Escrituras a essa questão por um tempo na igreja
Esperançosamente, isso criará uma cultura na igreja que inclui generosidade e até mesmo vontade de ser utilizado pelo amor de Cristo, mas também uma sensação de que não devemos nos enganar. Não devemos explorar aqueles que estão trabalhando duro para ganhar a vida, mas sim assumir a responsabilidade por nossas próprias necessidades em vez de depender dos outros para nos dar brindes.
“Não devemos explorar aqueles que estão trabalhando duro para ganhar a vida, mas sim assumir a responsabilidade por nossas próprias necessidades”
Por trás de ambos os aspectos dessa cultura na igreja — generosidade e responsabilidade, esses são os dois polos de que estou falando — está a graça do Senhor Jesus. Ele dá a graça para trabalhar, Ele dá a graça para dar, e ele recebe a glória em ambos os sentidos.
Créditos
Tradução: Tayllon Carvalho
Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e Publicado com autorização da mesma
Acesse mais conteúdos do John Piper nos links abaixo: John Piper
Pingback: Quão longe é longe demais antes do casamento? - Semper Reformanda