João 15 Desafia o Calvinismo?

Pergunte ao Pastor John #223

Um ouvinte frequente do podcast nos enviou esta pergunta por e-mail: “Pastor John, meu nome é Sorin. Sou da Romênia, mas estou morando na Alemanha no momento. Minha pergunta é esta: Como você entende João 15:1–10 de uma maneira calvinista, porque o texto nos diz coisas como: ‘Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta’ ou: ‘Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.’?” O que me diz, pastor John?

Essa é uma questão bastante crucial, porque a visão bíblica, reformada e calvinista da união com Cristo — uma videira e um ramo —  é que, se fomos unidos a Cristo em um novo nascimento e em um chamado eficaz, nunca seremos arrebatados d’Ele. Estaremos eternamente seguros.

Nunca Cortados de Cristo

Baseamos isso em muitos textos:

João 10:27–29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo, e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”.

O ponto é: “se vocês são minhas ovelhas, estão seguros”.

Romanos 8:30 — Este é, para mim, o mais convincente: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Ninguém cai dessa corrente. Ele diz: “se você é justificado, você será glorificado”. Não há ninguém justificado que se perca entre a justificação e a glorificação.

Filipenses 1:6: “Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus”.

1 Coríntios 1:8–9: “Ele também os confirmará até o fim, para que vocês sejam irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual vocês foram chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”.

1 João 2:19: “Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos”. Então, João está explicando o ser cortado — ser expulso — como não tendo sido parte de nós desde o início.

Portanto, muitos textos mostram que aqueles que são verdadeiramente nascidos de Deus e verdadeiramente chamados estão seguros para sempre.

Ramos Infrutíferos

Então, chegamos a João 15 e lemos o versículo 2: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto ele limpa, para que produza mais fruto ainda”.

Agora, o que significa cortar? Já ouvi pessoas tentarem resolver esse problema dizendo: “Bem, isso não significa lançar fora, mas levantar. Você sustenta o ramo para que ele possa dar mais fruto”. Isso não funciona. E não funciona por causa do versículo 6: “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.” Portanto, há pessoas que estão apegadas a Jesus que vão para o inferno.

Então, o que fazemos com isso? Você poderia dizer, se quisesse, que João está se contradizendo, porque no capítulo 10 ele diz justamente o contrário. Ou, você poderia dar a João, que é muito digno de nossa confiança, o benefício da dúvida e dizer: “Tudo bem, você não quis que levássemos essa ilustração tão longe. O que você está nos dizendo?” E creio que  João está dizendo  que há um tipo de apego a Jesus que não é um apego salvífico. Há um tipo de união com a videira que não é uma união salvífica. E, assim, se esses forem cortados, eles não comprometem a doutrina da segurança eterna, porque eles não foram salvos desde o início.

Filhos da Perdição

Agora, a razão pela qual acredito que isso não é uma súplica especial é por causa dos numerosos exemplos desse tipo de coisa no Novo Testamento. Aqui está um dos mais claros — Judas.

Judas foi escolhido por Jesus. Ele era um dos doze apóstolos. Ele tinha um relacionamento com Jesus. Quando eles saíram para curar e expulsar demônios, não há evidência de que todos eles disseram: “Por que Judas não consegue fazer isso?” Judas conseguiu. Ele expulsou demônios. Ele curou os doentes, e ninguém se perguntou por que ele não conseguia. E ele fez isso em nome de Jesus. E ele não foi salvo. Ele não nasceu de novo. Ele não era eleito. Ele era, disse Jesus, um filho da perdição. E estava escrito no Antigo Testamento que ele ia trair Jesus (ver Salmo 109:8).

“Judas expulsou demônios. E ele não foi salvo.”

Jesus diz: “Eu os protegi” — isto é, protegi todos os meus ramos — “e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (João 17:12). Logo, não havia nada de surpreendente aqui para Jesus. Ele escolheu ter Judas em seu bando e dar-lhe um poder incomum. E então, se alguém olhasse para isso, diria: “Uau, esse ramo está na videira”. E foi nesse sentido. Mas não era no nascer de novo, no sentido de ser efetivamente chamado.

Aqui está outra ilustração. Jesus diz isso em Mateus 7:22–23:

“Muitos, naquele dia, vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, nós não profetizamos em seu nome? E em seu nome não expulsamos demônios? E em seu nome não fizemos muitos milagres?’ Então lhes direi claramente: ‘Eu nunca conheci vocês. Afastem-se de mim, vocês que praticam o mal’”.

Essas são pessoas do tipo de Judas. Eles realmente estão na igreja há muito tempo. Eles se beneficiaram de todas as maneiras em sua caminhada com o povo cristão e sua conexão externa com Jesus Cristo, e estão realizando certos tipos de obras maravilhosas. Estes não são salvos.

Produzindo Frutos de Amor

Agora aqui está uma última ilustração. Paulo disse a mesma coisa em 1 Coríntios 13:2: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei”. Sendo assim, a marca de uma pessoa que verdadeiramente nasceu de novo não é um apego ao Jesus que pode fazer milagres, mas sim um apego ao Jesus que ama.

O fruto do Espírito é a marca do verdadeiro ramo. Penso que é esta a questão. Se você ler mais adiante, em João 15:5, Jesus diz: “Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada”.

Então, acredito que João 15 não contradiz a segurança eterna. Ele não contradiz o entendimento reformado e calvinista da perseverança dos santos. Contudo, adverte que a união verdadeira e salvífica com a videira é mais do que uma membresia da igreja. É mais do que um ministério. É mais do que milagres. É produzir os frutos de amor.

Créditos

Tradução: Kennedy Souza

Colaborador(es): Kéren Hapulque (Revisão);

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização.

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