Martin Bucer

O caldeirão protestante

Martin Bucer(1491–1551) pode ser o reformador mais importante que você nunca ouviu falar. Ele liderou à sombra dos outros grandes alemães Lutero e Melanchthon, mas ocupou o comando do que veio a ser, pelo menos por um tempo, a capital do mundo protestante.

Bucer nasceu perto de Estrasburgo em 11 de novembro de 1491. Aos quinze anos, ele se juntou ao mosteiro dominicano, um grupo monástico de pregadores católicos romanos. Frades como Bucer cumpriam votos de pobreza, castidade e obediência. Mas, ao contrário dos monges, eles faziam isso entre as pessoas, servindo em comunidade, não isoladamente.

O frade mais promissor da Alemanha

Martin Bucer ouviu Martinho Lutero pela primeira vez em abril de 1518 (Bucer tinha 26 anos; Lutero, 34). Ele foi cativado por Lutero, especialmente por sua convicção de que somos justificados somente pela fé, independentemente de qualquer contribuição ou mérito nosso. Três anos depois, ele não somente deixou a ordem dominicana para pregar o evangelho, mas também abandonou seus votos monásticos e decidiu casar, tornando-se o frade mais promissor (e radical) da Alemanha. Ele se casou com nada menos do que uma freira chamada Elizabeth.

Embora Lutero tivesse levado Bucer à Reforma, ele não concordava com seu pai espiritual em tudo, em parte porque ele já tinha sido fortemente influenciado por Erasmo, a quem apreciava e admirava, apesar de suas diferenças teológicas. A tendência geralmente mais inclusiva e ecuménica de Bucer providencialmente o posicionou para desempenhar um papel significativo em um movimento tão amplo.

Reforma com Moderação

Estrasburgo tornou-se o centro do protestantismo em grande parte porque Bucer e outros líderes permaneceram abertos em muitas das questões mais controversas e divisórias. Por exemplo, em 1529, Bucer intermediou um encontro histórico, embora hostil, entre Lutero e Zwingli sobre a Ceia do Senhor. Sendo ele mesmo previsivelmente simpático em ambas as direções, ele reuniu os dois lados na esperança de alcançar o tipo de acordo que pudesse catalisar a unificação dos dois principais grupos da Reforma.

Embora a reunião não tenha conseguido gerar um acordo sobre a Ceia, ela ilustra o tipo de papel que o antigo frade desempenhou – entre Lutero e Zwinglio, entre os principais protestantes e os anabatistas mais radicais, e até mesmo entre Reformadores e Católicos. Ao invés de formar e liderar um movimento próprio e distinto – Os Bucerianos, se preferir – ele se esforçou para reunir os movimentos sob o claro ensino das escrituras em um único grande caldeirão cristão. Ele percebeu e valorizou o precioso poder da solidariedade.

Os Primeiros Pequenos Grupos

Com a estranha descendência espiritual de Lutero e Erasmo, a reforma de Bucer assumiu um aroma distinto e eclético. Inicialmente, ele enfatizou simultaneamente que a justificação é somente pela fé, enquanto também exigiu uma disciplina e boas obras zelosas capacitadas pelo Espírito na vida cristã Até aí tudo bem. No entanto, mais tarde ele falou de uma espécie de dupla justificação que era no mínimo confusa, se não borrasse a linha do “Somente a Fé”.

De uma forma ou de outra, Bucer se importava com a conduta cristã. Como resultado, ele persistentemente buscou meios de disciplinar a igreja. Primeiro, ele foi até os oficiais em Estrasburgo, pedindo uma aplicação mais rigorosa. Quando o governo se recusou a impor padrões mais rigorosos de obediência, ele formou grupos voluntários de crentes dentro das igrejas locais com o propósito de prestar contas regularmente e disciplinar a igreja. Assim, Bucer pode muito bem ser o improvável (e relutante) pai dos pequenos grupos modernos.

Depois de ser exilado, João Calvino testemunhou o tipo de disciplina eclesiástica estabelecida em Estrasburgo e construiu sob os mesmos princípios quando retornou para Genebra. Calvino passou alguns dos seus anos mais felizes aprendendo com Bucer em Estrasburgo, enquanto pastoreava uma congregação de colegas refugiados franceses.

Cola Alemã

A primeira esposa de Bucer, de vinte anos, morreu de peste bubônica em 1542. Em seu leito de morte, ela encorajou Martin a se casar com Wibrandis Rosenblatt. Wibrandis, mais tarde apelidada de “A Noiva da Reforma”, já havia se casado e enterrado três líderes reformadores: Ludwig Keller, Johannes Oecolampadius e Wolfgang Capito (também de Estrasburgo). Apenas sete anos depois, ela enterrou o quarto.

Embora o antigo frade tenha ajudado a abrir caminhos para o casamento entre monges convertidos, ele também abriu uma porta maior para o divórcio, mas apenas como “um último recurso absoluto e geralmente raro, tanto quanto a pena de morte para o adultério” (Reforma, 660). Suas exceções se tornaram uma ponta afiada, esculpindo uma abertura semelhante em toda a Europa protestante.

Em 1549, quando o Interino de Augsburg forçou os protestante a readotar as crenças e práticas católicas, Bucer aceitou o convite de Thomas Cranmer para ficar refugiado por um tempo em Cambridge, Inglaterra, como Professor Regius de Divindade. Morreu apenas dois anos depois, em 1551, antes de poder regressar a Estrasburgo.

Muitos têm esquecido o menos conhecido Martin, provavelmente porque lhe faltou o timing de Lutero e Zwinglio, e a precisão sutil de Melanchthon e Calvino, preferindo, ao invés disso, preencher a lacuna e facilitar a unidade entre os reformadores. E é precisamente por isso que devemos nos lembrar dele — a cola alemã da Reforma Protestante.

Créditos

Tradução: Tayllon Carvalho

Revisão: Francisca Maria

Edição: Fabiana Lima

Colaborador(es): Francisco Alan Gonçalves (Revisão);

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.

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