Superando o medo e a passividade no evangelismo

Superando o medo e a passividade no evangelismo

Duas semanas atrás, analisamos as missões, o evangelismo pessoal e o objetivo de tudo isso. Porque Paulo dedicou sua vida para pregar o evangelho? E nós tivemos a resposta: Paulo só queria ganhar. Ele menciona a palavra ganhar cinco vezes em quatro versos em 1 Coríntios 9:19–22. Esse foi o foco do podcast passado.

É muito fácil falar do evangelismo assim de forma abstrata. E é muito mais desafiador atualmente evangelizar. Então, hoje eu quero encorajar você com uma história. Esta é a história de um homem tentando ganhar outro homem para Cristo — uma história de dois vizinhos. E é uma história que vai nos desafiar a considerar a questão mais importante por trás do nosso evangelismo: Qual é o valor de Jesus para mim? Sua resposta a essa pergunta torna-se o seu testemunho compartilhável. Ele é o que você oferece aos outros quando você busca ganhar eles para Cristo.

Quando se trata de evangelismo pessoal, sou encorajado por histórias corajosas e honestas, com dúvidas, hesitação e superação de medos. E é isso que temos hoje, a história de um homem, do pastor John Piper, buscando ganhar seu vizinho de porta para Cristo (um homem chamado Allen) em uma história muito rara e extensa contada pelo pastor John em 1982, mais de quarenta anos atrás. Aqui está.

Eu tenho um vizinho chamado Allen, e ele é um homem solteiro com seus quarenta anos, eu suponho. Quando Noël e eu nos mudamos para essa vizinhança, eu o conheci provavelmente no primeiro ou segundo dia. E naquela conversa, perguntei se ele ia à igreja em algum lugar, e ele disse que não. E minha resposta a isso foi: “Bem, você é com certeza bem-vindo para ir a Igreja Bethlehem qualquer hora” — ele sabia que eu era o pastor ali porque eu tinha contado isso a ele — e em seguida desisti de falar mais.

Bem, a razão que me fez desistir de falar mais foi a seguinte — quero dizer, suponho que quando alguém diz que não vai à igreja de forma nenhuma, ele provavelmente não conhece a Cristo, porque Cristo leva seu povo à comunhão — A razão pela qual eu desisti, apesar de suspeitar que ele precisava muito do Senhor, não é porque eu tinha uma estratégia muito clara e sábia para alcançá-lo nas próximas semanas. É porque eu era inerte, e minha fé não era vital, e Cristo não era muito precioso para mim naquele momento, o que transmitiria pra mim um amor por este homem.


Oração e um Livro

Bem, agora um ano se passa. Durante o ano, do verão de 1980 ao verão de 1981, eu o vi não sei quantas vezes, mas nunca em qualquer conversa prolongada — apenas passando pelo caminho. “Olá, Allen.” “Oi, John.” E foi isso, praticamente, mesmo ele morando na porta ao lado.

E durante o ano, eu dificilmente conseguia orar sem ele vindo à mente. Eu ia a Deus me sentindo deprimido às vezes e dizia: “Deus, eu quero poder. Quero bênçãos na minha vida. Há algo entre mim e você? Existe?” ?” Allen, Allen, Allen, todas as vezes. Me senti tão culpado. E o que aconteceu foi que comecei a orar muito fervorosamente, e pedi ao Senhor que me desse coragem, e acima de tudo amor — que eu fosse autêntico, realmente me importasse, para que quando eu falasse fosse real.

E então o Senhor começou, muito pacientemente, a me mover passo a passo. Aqui estava o passo número um. Ele gerou em mim, na primavera, o desejo de começar a carregar esse pequeno livreto por todo lado chamado “Tornando-se um Cristão” do John Stott. Eu tomei cuidado para levar comigo esse livreto todos os dias.

E eu prometi ao Senhor, “próxima vez que eu vir o Allen, eu vou falar com ele sobre sua Fé. Eu vou dizer a ele, ‘Allen, eu me preocupo com você. Este livro tem sido uma ajuda para mim, e talvez você pudesse lê-lo e poderíamos falar sobre isso.“ Esse era o meu texto. O Senhor me inclinou a isso no meu coração.

Certo. O verão vai até julho, final de julho, e é hora de sair de férias. Nunca o vi. Não o via há três meses. Eu estava carregando esta coisa o tempo todo. Está todo gasto. Então eu peguei um novo e coloquei no meu bolso.

Então, acho que foi um dia antes das férias, pouco antes de Agosto, eu tive que fazer algumas correções na lateral da casa, e eu teria que obter a permissão dele porque ia passar pelo quintal dele, eu pensei. E eu contei a ele sobre o conserto. “Pode ser?” “ — Sim, Claro”

“Allen”, eu disse, “você se lembra da última vez que conversamos? Você disse que não ia a nenhuma igreja, e presumo que isso significa que você também não tem muito interesse em Jesus. E você provavelmente sabe que eu o considero (Jesus) como meu Senhor, e eu realmente fico preocupado quando as pessoas não se importam com Jesus. Eu tenho carregado este livro por três meses na esperança de dar a você, para que talvez pudéssemos falar sobre o que significa confiar em Cristo. Você poderia lê-lo?” “Claro, vou ler.”

Ele estava indo para Boundary Waters (uma região linda com muitas águas) no dia seguinte. E ele partiu para lá. Ele foi muito cortês, me agradeceu por isso. E essa foi a última vez que o vi até o Natal — mas estou me adiantando.


Cara a cara

Depois disso, eu estava em constante oração sobre como eu deveria dar seguimento a isso. Se você realmente se preocupa com alguém, não joga ele em literatura e foge. O que eu faço em seguida, Senhor? Qual é o próximo passo?

Numa segunda-feira de manhã, no outono, eu estava orando aqui no meu escritório, e não consegui levantar meus joelhos até fazer um voto ao Senhor. E o que eu jurei foi isso: Eu vou ligar para ele à noite. Então eu me levantei e disse aos estagiários que estavam comigo naquela tarde: “Pessoal, vou ligar para ele esta noite e perguntar se podemos falar sobre o livro”. E eles oraram por mim.

Às 19:30 eu liguei para ele, e ele não estava em casa. Liguei pra ele outra vez. Ele não estava em casa. Ele não voltou para casa a noite toda. Me senti bem. Eu não fazia isso há muito tempo, e isso me fez sentir bem que pelo menos eu tinha feito isso. Agora, eu não me senti bem em ligar para ele na noite seguinte, porque o Senhor começou a colocar em mim outra coisa: Esqueça o telefone. Vamos ficar cara a cara. Vá. Jesus foi. Vá. Pare com essas coisas intermediárias e vá, se você se importa.

Agora, a próxima coisa que aconteceu foi esta casa aberta de Natal que tínhamos. Isso foi no final de Novembro, e ele veio. É a primeira vez que o vejo desde julho. Mas a sala estava cheia de gente. A gente sentou no chão juntos. Ele se sentiu tão bem por estar ali. Ele está natural. E eu disse: “Isso é ótimo. Ele não tem tanto medo de mim, e isso é bom.”

Mas eu não perguntei a ele sobre o livro lá porque havia muitas pessoas ao redor. Não sei se deveria ou não, mas não o fiz. E ele foi embora, e eu me senti bem por ele ter se sentido livre para vir. E eu senti que agora eu sei que ele não tem medo de mim, e assim podemos ser naturais um com o outro.


Nisto Juntos

E então fiz algo que recomendo a todos. Segunda-feira, 14 de dezembro, tirei um dia de retiro. Durante cinco horas eu orei e li a Bíblia, e o Senhor colocou sobre mim um grande peso pelo sermão da semana passada e pelo sermão desta semana. E eu suspeitava muito fortemente que eu não poderia pregar se eu não seguisse com Allen. Isso é pressão para um pregador.

A infrutuosidade do nosso testemunho em Bethlehem realmente pesou sobre mim, e eu sabia que o problema era tanto comigo quanto com qualquer um de vocês. E, portanto, como líder e pastor, eu sabia que algumas mudanças tinham que ser feitas em mim. Claro, eu testemunho todos os domingos deste púlpito. E você pode pensar: “Oh Piper, ele é tão bem sucedido. Ele pode simplesmente proclamar a palavra o tempo todo e se sentir ótimo.”

E eu falo com as pessoas sobre o Senhor em meu escritório toda vez que elas vêm lá. Dificilmente deixo alguém sair sem o evangelho. É tranquilo. Mas quando se trata de ir às pessoas no mundo onde elas estão, como Jesus fez, fico tão hesitante quanto qualquer um de vocês. Então, não pense diferente. Estamos todos juntos nisto.

“Eu disse a mim mesmo: ‘Eu tenho que parar de negar o evangelho através do silêncio’.”


Eu sabia que tinha algo em que eu precisava me doar. Algo tinha que ter um estalo. Alguns medos longos e arraigados tinham que ser superados se eu fosse ser um ministro autêntico, se eu fosse continuar como pastor. “Eu disse a mim mesmo: ‘Eu tenho que parar de negar o evangelho através do silêncio.” Se eu vou ficar neste púlpito e dizer a você: “Ame o seu próximo, ame o seu próximo, ame o seu próximo”, eu tive que parar de contradizer esse comando por minha própria negligência.

Então, 23 de Dezembro chegou. Antes do café da manhã, eu estava orando no andar de baixo, e o Senhor fez algo que ele não fez para sempre, em certo sentido, para mim. Eu estava lutando, ao mesmo tempo querendo e não querendo determinação para me levantar dos meus joelhos e ir. E o Senhor não me deixou levantar até que eu jurasse fazer algo naquela noite.


Quanto Jesus vale?

Agora, além de dezoito meses de oração e vacilantes e pequenos passos de bebê, o que me trouxe a esse ponto foi esta pergunta: Quanto Jesus vale? E eu peguei uma dessas grandes folhas amarelas de papel, e coloquei ela ao meu lado no sofá onde eu estava ajoelhado. E eu escrevi para mim mesmo: “Quanto Jesus vale?” No topo da página,

E então aqui está o que escrevi na resposta: “Jesus, prefiro ter a ti como meu Salvador e guia do que manter a minha saúde, ter os meus filhos e a minha esposa, ou preservar a minha própria vida. Você é mais valioso para mim do que tudo o que possuo, todas as amizades que prezo, todos os passatempos que desfruto e todos os meus planos para o futuro.

E então eu escrevi: “Por quê? Por que ele é tão valioso?” Escrevi três respostas. Primeiro: “Jesus, eu não poderia ter paz com Deus sem ti. Minha consciência me declara que há um Deus, e eu sou um pecador responsável. E sem a tua morte na cruz, Jesus, eu viveria diariamente na miséria da culpa”. Segundo: “Jesus, sem ti, a minha vida seria como um navio sem leme no mar do tempo, sem destino algum. Eu quero significado e sentido para a minha vida. E eu sei que se a Bíblia é verdadeira, só você pode dar esse significado, porque você dá significado a todo o universo.” E, em terceiro lugar, escrevi: “Sem ti, Jesus, a eternidade e a morte seriam assustadoras para mim. Mas Deus enviou-te ao mundo, me amando de tal maneira que, se eu crer em ti, não perecerei, mas terei a vida eterna.” E eu fiz um texto com cada uma dessas razões do porquê ele é tão valioso para mim.

Pulei do chão e disse: “Vou ler isso para o Allen hoje.” E eu fui até lá, mas antes, escrevi num pedaço de papel para que eu pudesse dar a ele. Antes de sair da sala, pedi que o Senhor me desse uma promessa. “Eu preciso de uma promessa, Senhor, porque vou me acovardar hoje. Vou me acovardar se não me prometer nada.” E sabe o que ele me deu? O filme Carruagens de Fogo, e o texto “honrarei aqueles que me honram” (ver 1Samuel 2:30). E procurei outro: “se alguém me servir”, disse Jesus, “meu Pai o honrará” (João 12:26). E eu apenas parafraseei isso para mim. Eu disse: “Ok, se isso é verdade, então isso significa: ‘Aquele que busca em amor testificar o meu valor, eu vou honrar”.

“E o Senhor abriu os meus olhos para ver que não há nada no mundo mais valioso do que ser honrado por Deus.”

E o Senhor abriu os meus olhos para ver que não há nada no mundo mais valioso do que ser honrado por Deus. E travei a batalha o dia todo com aquele texto, e foi ótimo. Ao meio-dia, fui à Livraria Logos e comprei um Novo Testamento e um Cristianismo Puro e Simples de C.S. Lewis. Escrevi uma mensagem de esperança e uma oração em cada um deles e os embrulhei como presente de Natal.


Presente de Natal

Naquela noite, tivemos convidados para a Ceia. Depois do jantar, eu lhes disse o que eu ia fazer e pedi para orarem por mim enquanto eu vou na porta ao lado. Nós oramos, e eu chamei ele de longe. “Olá, Allen, aqui é o John Piper, seu vizinho. Tenho um presente de Natal para ti. Posso levar?” “Com certeza”.

Ele está em casa. Ótimo. Vitória número um. Eu fui e bati na porta dele, e ele me deixou entrar. Ficamos ali na sala de estar, a televisão estava ligada. E eu disse: “Eu tenho um par de livros aqui e eu queria te dar pra você como presente de Natal. E há algo que eu quero dizer também. Tudo bem?” “Claro”.

Eu disse: “Você sabe pelas nossas conversas que Jesus é realmente importante para mim, e sei que você não acredita nele da maneira que eu acredito. Tenho orado por ti todos os dias há quase um ano. E eu senti que esta manhã eu tinha que vir te dizer por que Jesus é tão valioso para mim, porque eu gostaria imensamente que você acreditasse nele também.”

Eu peguei este pedaço de papel e ia ler, mas a televisão estava ligada bem ali ao meu lado. Simplesmente não dá para imaginar a atmosfera. Foi horrível pra compartilhar algo tão precioso. Então, ao invés de ler, eu apenas o segurei ali. Eu disse: “Eu escrevi isso. Vou deixá-lo com você”. E eu o parafraseei. Eu disse: “Isto é o quão importante Ele é para mim”, e eu disse: “Estas são as razões.” Dei a ele essas três razões com as minhas próprias palavras.

E então eu disse: “Allen, você já desejou esse tipo de relacionamento? Você já desejou conhecer Jesus dessa forma?” E ele disse: “Vou desligar a televisão e vamos nos sentar”. Isso é ótimo. Sentamos no sofá e conversamos. E entre as coisas que conversamos, ele disse: “Eu li aquele livro que você me deu em Boundary Waters e ouvi alguns cristãos cantando uma canção lá”.

E eu disse: “Pode ser bom ter uma fé assim”. E eu disse: “O que te impede? Qual é o obstáculo? Qual é o custo para você? Estilo de vida? Ou são problemas intelectuais?” E ele disse: “Sim, o último.”

E eu disse: “Bem, um desses livros, o do CS Lewis, foi uma tremenda ajuda para mim quando eu era calouro na faculdade, superando muitos desses obstáculos. E eu adoraria conversar com você sobre esse livro e sobre esses problemas.” E ele disse: “Sim, isso seria ótimo. Podemos conversar novamente?” “Claro”. E ele me agradeceu pela minha preocupação.

Agora, é aí que a história está hoje. E oro por ele todos os dias. Essa é a primeira vez que faço isso na minha vida. Vá a um vizinho. Converse com outras pessoas sobre o Senhor. Um vizinho, a pessoa mais difícil de testemunhar e entrar em sua casa e dizer: “Eu amo Jesus. É muito importante acreditar em Jesus. Posso dizer a você por que é importante?” Eu fiz isso, e eu faria algumas coisas de forma muito diferente. Retrospectiva é sempre melhor. Você aprende pela experiência.


Três lições para o evangelismo

Agora, aqui estão lições para a gente a partir dessa história.

1. Deus é paciente. Não desista de confiar em Deus. Ele é paciente. Dezoito meses de sentimentos de culpa, e ele não me abandonou.

2. Continue em oração — isto é tudo o que você precisa fazer, eu garanto. Se você não parar de orar, o Senhor fará o resto. Isso é tudo. Ele vai fazer de um jeito ou de outro. Tudo o que você precisa fazer é orar. O que fazemos é nos sentirmos tão culpados cada vez que o nome vem à mente, que o colocamos para fora. Zeramos a conta. Mas se você não zerar e continuar orando, Ele fará o resto. Ele vai traçar o caminho.

3. Se você fizer o que eu fiz — pegue um pedaço de papel e escreva: “Quanto Jesus vale?” e depois colocar isso nas suas próprias palavras, e depois dizer o porquê, escrever o porquê — aí está o seu testemunho, e é seu. É autêntico. Não tem que vir de nenhum livro. Você terá um testemunho, e o apoio da oração. E nossa igreja estará a caminho da colheita em 1982.


Créditos

Tradução: Tayllon Carvalho

Revisão: Francisca Maria

Edição: Fabiana Lima

Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.

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