
É o Dia da Mentira (ou Dia da Tolice), e, quaisquer que sejam suas origens, as Escrituras têm algo a dizer sobre bancar o tolo.
Há incerteza sobre como e quando as pessoas começaram a zombar do tolo no primeiro dia de abril. Muitos pensam que remonta à França do século XVI, quando a nação mudou do Calendário Juliano para o Gregoriano. O dia 1º de Abril teria sido o final de um festival que durava uma semana e que celebrava a chegada da primavera e, com ela, o ano novo. Agora, o ano novo mudou para 1º de Janeiro. Alguns se recusaram a fazer a troca, ou viviam em áreas rurais e não receberam a notícia, e foram ridicularizados como tolos por aqueles que fizeram a mudança.
Outros acham que a origem pode estar no erro de um escriba nos Contos de Canterbury de Chaucer, que fez os leitores pensarem que o “Conto do Padre e da Freira” — e a brincadeira da raposa com Chauntecleer, o galo vaidoso — ocorreu em 1º de Abril (quando Chaucer na verdade se referia a 2 de Maio). Outros ainda ligam o dia às celebrações na Roma, Pérsia e Índia antigas.
Mas por mais obscura que seja a verdadeira origem do Dia da Mentira (ou Dia da Tolice), o que está claro o suficiente é o ensinamento cristão sobre o que torna uma pessoa verdadeiramente tola.
Sabedoria: A Habilidade de Viver
O Livro dos Provérbios fornece o ensino mais denso da Bíblia sobre sabedoria e tolice, e o que rapidamente se torna claro é que o conceito bíblico é radicalmente centrado em Deus.
O próprio Deus é a fonte da sabedoria. Assim, é o tolo que diz em seu coração que não há Deus (Salmos 14:1;53:1), e provérbios nos dá o refrão, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbios 1:7; 2:5; 8:13; 9:10; 15:33). A verdadeira sabedoria começa em Deus e tem sua fonte e suprimento constantes n’Ele. Assim, diz Tremper Longman, Provérbios nos ensina que “o relacionamento precede a ética” (Intro to OT, 269).
De acordo com Longman, “sábio” é a palavra bíblica para “descrever a pessoa que dirige bem a vida” (How to Read Proverbs, 13). A sabedoria é a habilidade de viver. É um conhecimento prático que ajuda a saber como agir e como falar em diferentes situações. A sabedoria implica a capacidade de evitar problemas e de lidar com eles quando se apresentam. A sabedoria também inclui a capacidade de interpretar a fala e a escrita de outras pessoas para reagir corretamente ao que elas estão nos dizendo.
A sabedoria não é pura e simplesmente inteligência. A sabedoria bíblica está muito mais próxima da ideia de inteligência emocional do que do Quociente de Inteligência (QI). A sabedoria é uma habilidade, um “saber como”; não é um intelecto bruto, um “saber o que”. (14–16)
O conceito bíblico de sabedoria é, em grande medida, análogo à ideia de maturidade. A pessoa sábia é aquela que é madura em seu conhecimento de Deus — com base na auto-revelação de Deus — assim como em sua compreensão de si mesmo e do seu redor. A pessoa sábia é capaz de “dirigir bem a vida” no mundo real conforme definido por Deus nas Escrituras.
A tolice de não dirigir bem
Enquanto isso, o tolo não possui tal habilidade. Ele não dirige bem a vida no universo de Deus, da perspectiva de Deus e nas categorias de Deus. A própria essência da tolice é a supressão da verdade de Deus (Romanos 1:18).
A tolice não é apenas estúpida, mas pecaminosa (Salmo 69:5; 107:17; Romanos 1:22). Os tolos precisam desesperadamente “aprender o bom senso” (Provérbios 8:5), mas em vez disso eles odeiam o conhecimento (Provérbios 1:22). Eles são acomodados (Provérbios 1:32), facilmente frustrados (Provérbios 12:16), imprudentes e descuidados (Provérbios 14:16) e tortuosos na fala (Provérbios 19:1). Os tolos são propensos a temperamento precipitado (Provérbios 14:29), “a ira se abriga no íntimo dos tolos” (Eclesiastes 7:9). Os tolos entram na discussão e a sua boca clama por açoites (Provérbios 18:6).
O tolo despreza a instrução, mesmo daqueles que mais os amam (Provérbios 15:5), e assim traz miséria aos mais queridos (Provérbios 17:21).
Embora os sábios tenham aprendido a beleza e o valor da justiça, “fazer o mal é como uma piada para o tolo” (Provérbios 10:23). Enquanto os sábios são capazes de se conter em silêncio, “o tolo dá vazão total ao seu espírito” (Provérbios 29:11). E como Jesus ensinou, enquanto os sábios são “ricos para com Deus”, o tolo presume “muitos anos” e “ajunta tesouros para si mesmo” nesta vida (Lucas 12:19–21).
Um tolo é “como um arqueiro que fere a todos” (Provérbios 26:10) e “como um cão que volta ao seu próprio vômito” (Provérbios 26:11). Melhor é encontrar uma ursa da qual roubaram os filhotes do que o insensato na sua tolice” (Provérbios 17:12).
Orgulhoso, falastrão e sozinho
Como as noções bíblicas de sabedoria e loucura são centradas em Deus, no cerne da insensatez está o orgulho e a autossuficiência. O tolo é arrogante, e os arrogantes são tolos. O tolo diz em seu coração que não há Deus — e, francamente, não vê necessidade de Deus. O tolo é “sábio aos seus próprios olhos” (Provérbios 26:12), “reto aos seus próprios olhos” (Provérbios 12:15) e “confia na sua própria mente” (Provérbios 28:26). Ele sente que tem tudo sob controle e não precisa da opinião dos outros – especialmente da instrução de Deus.
O tolo é mais o falante, menos o ouvinte. “O tolo não tem prazer no entendimento, mas apenas em externar o que pensa” (Provérbios 18:2). “A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios são uma armadilha para a sua alma” (Provérbios 18:7). Ele é alguém “de muito falar” (Eclesiastes 5:3) e “multiplica palavras” (Eclesiastes 10:14). “A mulher insensata é espalhafatosa” (Provérbios 9:13). O tolo “responde antes de ouvir” (Provérbios 18:13).
Enquanto os sábios ouvem veementemente e anseiam pelo conselho dos outros — e “Quem tem coração sábio aceita os mandamentos mas o que fala tolices acaba em ruína” (Provérbios 10:8). “A fala dos insensatos é ruína iminente” (Provérbios 10:14).
O tolo não apenas suprime sua necessidade das palavras de Deus, mas também do conselho dos outros. “O sábio ouve os conselhos” (Provérbios 12:15). Ter sábios como companhia é essencial para aprender sabedoria (Provérbios 13:20). Os tolos preferem falar a ouvir. Eles podem dizer que gostam de “ter outras pessoas em suas vidas”, mas eles realmente não querem ouvir nenhuma correção. Eles preferem proferir calúnias (Provérbios 10:18) do que prestar atenção à repreensão (Provérbios 15:5).
Enquanto a sabedoria leva à vida (Provérbios 3:18; 16:22), a insensatez leva à morte (Provérbios 5:23; 10:21).
Todos os Tesouros da Sabedoria
Para o cristão, a centralidade radical em Deus da sabedoria em Provérbios assume uma forma radicalmente centrada em Cristo no Novo Testamento.
O próprio Jesus, como a revelação completa e final de Deus (João 1:18; Colossenses 1:15; Hebreus 1:1–3), agora é revelado como o segredo da verdadeira sabedoria. Como o Deus-homem, Ele é a encarnação perfeita da sabedoria divina na forma humana — Ele é a vida de Deus na alma do homem — e n’Ele “estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Colossenses 2:3). Para aqueles que estão perecendo, “a palavra da cruz é loucura”, mas para aqueles que estão sendo salvos é o poder de Deus e o modelo de sabedoria (1 Coríntios 1:18).
Se a sabedoria é a habilidade de dirigir bem a vida, no mundo de Deus, nos termos de Deus, agora nós vemos que isso significa nada menos que ter Aquele que é “o caminho, a verdade e a vida”, o único pelo qual podemos vir ao Pai (João 14:6). Assim, para apresentar alguém verdadeiramente sábio, verdadeiramente maduro, é “Este Cristo [que] nós anunciamos, advertindo a todos e ensinando a cada um em toda a sabedoria” (Colossenses 1:28).
Somente em Jesus, aqueles que nasceram na tolice, e que manifestavam cada vez mais loucura em um curso acelerado para a destruição podem ser libertos para a verdadeira sabedoria e vida suprema. “Pois nós também, no passado, éramos insensatos, desobedientes, desgarrados, escravos de todo tipo de paixões e prazeres, vivendo em maldade e inveja, sendo odiados e odiando-nos uns aos outros” (Tito 3:3). Mas a própria sabedoria nos salvou (Tito 3:4-5).
Somente em Jesus podemos ter realmente sabedoria e então ser suficientemente mudados para não apenas zombar do tolo, mas ter compaixão do tolo.
Créditos
Tradução: Tayllon Carvalho
Revisão: Francisca Sousa
Publicado em Inglês no site Desiring God. Traduzido e publicado com autorização da mesma.
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Para mais artigos do autor, acesse: David Mathis